Mulher foi exposta no tour 360 aos interessados em comprar o imóvel da plataforma Loft – e morreu logo depois.

Startup de imóveis anunciou apartamento em São Paulo com idosa à beira da morte dentro

Mulher foi exposta no tour 360º aos interessados em comprar o imóvel da plataforma Loft – e morreu logo depois.

Mulher foi exposta no tour 360 aos interessados em comprar o imóvel da plataforma Loft – e morreu logo depois.

O anúncio chamava a atenção: um apartamento de 70 metros quadrados, no coração de Pinheiros, um dos bairros mais valorizados de São Paulo, por apenas R$ 475 mil. Era quase metade do valor normalmente cobrado por metro quadrado na região. O imóvel estava à venda pela Loft, imobiliária apresentada como uma “plataforma digital que usa a tecnologia para simplificar a venda e compra de imóveis”.

Mas, quando o interessado abria o tour virtual para conhecer melhor o apartamento, encontrava no meio da sala uma maca com uma senhora idosa, deitada, cercada por remédios, sujeira e bagunça. Só o rosto dela estava borrado; o visitante conseguia ver sua cama, seu corpo, os detalhes do cômodo, as fotos de família e os remédios que ela tomava, enquanto o apartamento era negociado pela imobiliária, responsável pela avaliação do imóvel e a divulgação.

Startup de imóveis anunciou apartamento em São Paulo com idosa à beira da morte dentro
Startup de imóveis anunciou apartamento em São Paulo com idosa à beira da morte dentro

O apartamento estava sendo anunciado na modalidade “Loft Market”. Nela, a empresa se responsabiliza por avaliar o imóvel, checar seus documentos e precificá-lo. Depois, ele é anunciado com exclusividade na plataforma.

O anúncio estava no ar até pelo menos as 15h desta terça-feira e foi retirado do site logo após o contato do Intercept. Ele já havia sido removido dez dias antes por causa de um alerta de um usuário, informou a Loft, mas voltou à plataforma a pedido do proprietário. O anúncio deveria ser republicado sem as fotos da idosa, mas uma “falha técnica” fez com que a empresa a exibisse no tour virtual novamente. A startup afirma que está revendo seus procedimentos para não publicar mais anúncios com fotos de pessoas e que lamenta muito pelo ocorrido.

Perguntei se a senhora autorizou a divulgação de suas imagens. A Loft afirmou que “os proprietários do imóvel concordam, por meio do contrato de exclusividade, com a produção e divulgação de fotos do apartamento” e que “a identidade da senhora foi preservada por recurso tecnológico”.

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A Loft promete aos proprietários de imóveis um kit de divulgação para vendas, com”fotos profissionais, tour virtual 3D, planta atualizada e precificação correta”. Também diz que os imóveis comercializados por ela são divulgados em anúncios para mais de 1 milhão de usuários por mês e ainda se oferece para renovar o “novo lar com a ajuda do expertise da Loft e acabamentos de alto padrão”.

Autointitulada “revolucionária em um mercado tradicional”, a empresa foi fundada em 2018 pelo alemão Florian Hagenbuch, pelo húngaro Mate Pencz e pelo brasileiro João Vianna para “facilitar a vida de quem busca um novo lar”. A startup funciona como uma imobiliária, intermediando a venda de imóveis – caso do apartamento anunciado com a idosa – com avaliação, fotos e divulgação. Também tem uma linha de crédito imobiliário e intermedia reformas com arquitetos parceiros. E ainda ganha dinheiro com o mesmo método de investidores e especuladores imobiliários: compra imóveis detonados e baratos em bairros valorizados, reforma com parceiros e os vende por um preço maior.

“Queremos que trocar de apartamento no Brasil seja tão fácil quanto trocar de carro”, disse Vianna à revista Exame. Segundo a reportagem, a empresa já movimentou R$ 2 bilhões em imóveis – só nos primeiros dois meses de 2020, 39 foram vendidos pela empresa.

Em janeiro deste ano, com uma nova rodada de investimentos, a Loft se tornou o 11º “unicórnio” do país – o jargão startupeiro que define as empresas que são avaliadas em mais de R$ 1 bilhão. Entre os novos investidores estão fundos como o Monashees, responsável por financiar o Loggi, Rappi e o banco Neon, e o Thrive Capital, de Joshua Kushner, irmão mais novo do conselheiro e genro de Donald Trump, Jared Kushner.

No site, a empresa se auto-propagandeia como “empresa bilionária”. Também publicou um rígido código de ética para os funcionários, que dita regras para recebimento de presentes, tipo de roupa a ser usado e até que tipo de relacionamentos amorosos entre empregados são tolerados e quais devem ser comunicados aos chefes. Também afirma que condutas e comentários ofensivos não são tolerados. Não há menção à exposição de seres humanos em condições degradantes dentro dos apartamentos transformados em lucro pela empresa.

A Loft afirmou que, segundo a família, o imóvel não está mais habitado e precisa ser vendido com urgência. A empresa foi informada de que a senhora faleceu alguns dias antes do contato com a família. “A Loft se solidariza com os proprietários do apartamento, familiares desta senhora”, disse a startup, que também afirmou ter oferecido a limpeza do local e uma nova sessão de fotos.

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O Intercept não pode poupar esforços para investigar e expor os esquemas que colocam em risco nossos direitos e nossa democracia.

Já revelamos as mensagens secretas de Moro na Lava Jato. Mostramos como certas empresas e outros jornais obrigavam seus trabalhadores a apoiarem Bolsonaro. E expusemos como Pablo Marçal estava violando a lei eleitoral. 

Mas temos pouco tempo, e muito mais a revelar. Agora precisamos de recursos para colocar mais repórteres nas ruas. Para isso, precisamos de sua ajuda. Somos financiados por nossos leitores, não pelas empresas ricas que mandam em Brasília.

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