Balão inflado no Maracanã durante a turnê de Roger Waters no Brasil.
Foto: Luiz Henrique Estevam/Zimel/Folhapress
Este texto foi publicado originalmente na newsletter do Intercept Brasil. Assine. É de graça, todos os sábados, na sua caixa de e-mails.
Durante a cobertura das eleições, muitos de vocês nos perguntaram se o Intercept faria um editorial sobre Bolsonaro. Nós não fizemos, e nem faremos.
Mas antes deixa eu ser muito breve pra agradecer a todos os que contribuíram com nosso crowdfunding. Nós fizemos muitas coisas graças a vocês. Está tudo aqui, e isso só existe porque vocês acreditaram. Obrigado, obrigado, obrigado!
Antes de produzir esse material, nós conversamos sobre fazer ou não um editorial falando de Jair Bolsonaro. Sua campanha não seria como as outras e nem mesmo se parecia com as anteriores. Tancredo, Collor, Fernando Henrique, Lula, Serra, Alckmin, Aécio, Dilma – nenhum deles vocalizou tantas agressões aos acordos de convivência quanto Bolsonaro. Frequentemente, seu discurso se valia de falsos dilemas, como as frases que ficaram famosas atribuídas a ele: “Prefiro ser revistado em cada esquina do que ser assaltado em cada quarteirão” ou “Prefiro o militar pedindo meu documento do que o bandido levando minha carteira”. Como se a escolha fosse somente entre uma coisa e outra.
A fórmula se repete no discurso até hoje, segue um tipo de nacionalismo emo de auto-ajuda em “Prefiro a incerteza da mudança do que a certeza da mesmice”, críticas ao PT em “Prefiro o braço forte dos honestos do que as mãos frouxas dos corruptos” até o escracho escarrado de “Prefiro votar no BOLSONARO e cair do cavalo do que votar no PT e me roubarem o cavalo!!!!”. É Bolsonaro puro.
Mas editorial soou antigo e patronal. Nós não gostamos de dizer aos demais o que eles devem fazer.
Então nós analisamos seu plano econômico que só faz sentido para o mercado financeiro. Mostramos como sua candidatura agiu ativamente para censurar a liberdade de imprensa que ele diz defender enquanto fabricava boatos e tentava chupar dados de celulares para sua máquina de propaganda no WhatsApp permeada de notícias tão falsas quanto sua insistência na fraude das urnas encenada por um personagem da Sessão da Tarde.
Antes ainda da campanha nós provamos que o partido de seu vice, Mourão, financiou a maior rede de fake news do Brasil, derrubada pelo Facebook somente na semana passada. Duas semanas atrás, depois de ouvir jornalistas de grandes redações, nós desbancamos a tese do candidato que se vende como “anti-establishment” enquanto tem apoio descarado da imprensa, sobretudo da segunda maior rede de TV, jornais, rádios e sites do país.
Deixamos claro que aquele Bolsonaro “contra tudo e contra todos” é, na verdade, apoiado por mega empresários e seus votos de cabresto. Que o moralista que se orgulha de não usar a máquina pública em favor próprio tentou usar o Itamaraty para fazer elogios a Pinochet, à época um ex-ditador já sabidamente acusado de tráfico de cocaína.
Em vez de fazer um editorial, nós também investigamos o entorno de Bolsonaro.
Publicamos documentos que provam que um dos líderes de seu possível governo está bem enrolado na justiça; que seu vice dos sonhos é também o cliente dos sonhos de dois postos de gasolina onde ele torrou meio milhão em dinheiro público. Mostramos, em resumo, que Bolsonaro está cercado de uma trupe imprevisível que agora vai tentar passar projetos retrógrados na Câmara Federal, seguindo um chefe que defende uma política de segurança já testada e ineficaz, e que continua repetindo a falácia de que na ditadura tudo era melhor.
Bolsonaro quer o Brasil de 50 anos atrás de volta e nós achamos essa ideia uma desgraça. Isto não é um editorial contra Bolsonaro. É uma campanha de esclarecimento. Ninguém que acompanhou o Intercept durante as eleições pode dizer que foi enganado. Bolsonaro está nas nossas páginas frase por frase.
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