Pesquisa dos irmãos Koch mostra que americanos querem salário mínimo maior e saúde gratuita

Pesquisa dos irmãos Koch mostra que americanos querem salário mínimo maior e saúde gratuita

Contrariando o liberalismo econômico apoiado pelos irmãos Koch, levantamento mostra que americanos querem mais políticas sociais.

Pesquisa dos irmãos Koch mostra que americanos querem salário mínimo maior e saúde gratuita

DURANTE O MÊS de julho, o grupo de marketing e comunicações “In Pursuit Of” [Em Busca], criado pelos irmãos Koch em 2017, realizou uma pesquisa com os americanos sobre uma série de questões.

A pesquisa foi posteriormente analisada pelo site RealClearPolitics, que deu aos resultados uma interpretação favorável à rede Koch. O RealClearPolitics observou que, dentro de um conjunto de perguntas vagas sobre valores, os americanos aparentemente se colocaram do lado conservador ou libertário das discussões políticas. Destacaram, por exemplo, que a pesquisa teria descoberto que 86% dos americanos disseram que o direito à propriedade privada é fundamental para uma sociedade livre e justa. Sim, claro.

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Mais importante, porém, foi que ficou de fora da análise do RealClearPolitics o fato de que a pesquisa também interrogou em profundidade os americanos sobre as diversas questões que poderiam ajudá-los a superar barreiras sociais, e descobriu que eles são bastante favoráveis a um conjunto de políticas a que a rede Koch se opõe. Onde os irmãos Koch veem tirania do governo, a maior parte dos americanos enxerga soluções de bom senso para problemas básicos.

(Classificados por “Soluções Muito Eficazes”.) Solução Muito Eficaz Solução Razoavelmente Eficaz Não é Solução Não Sabe
Reduzir a tributação e controlar os gastos do governo 55% 31% 9% 5%
Fazer valer os direitos iguais para todos 53% 31% 10% 7%
Reforma da assistência de saúde que coloque médicos e pacientes no controle 50% 33% 8% 10%
Encorajar inovação científica e tecnológica 49% 36% 7% 8%
Aumentar a segurança pública 44% 41% 7% 8%
Instituir exigências de trabalho para programas de assistência como os selos alimentares e o Medicaid 40% 37% 16% 6%
Impedir que o governo estabeleça vencedores e perdedores, deixando que os indivíduos decidam quais produtos ou empresas devem ter sucesso ou não 40% 34% 11% 16%
Dar às famílias a liberdade e os meios para escolher a escola mais adequada a seus filhos 39% 39% 15% 7%
Preparar ex-criminosos para a reinserção social como cidadãos produtivos e cumpridores das leis 39% 45% 8% 8%
Acabar com o nepotismo que leva aos subsídios empresariais 37% 35% 10% 18%
Acabar com as condenações duras para crimes menores cometidos sem violência 37% 40% 15% 8%
Anuidades do ensino superior custeadas pelo governo 35% 31% 26% 8%
Salário mínimo de US$ 15/hora 35% 30% 28% 6%
Comércio mais livre e intercâmbio aberto de bens e serviços 34% 44% 9% 13%
Mais regulação de Wall Street 33% 36% 15% 15%
Aumento do apoio do governo à puericultura 30% 39% 21% 9%

 

A pesquisa descobriu, por exemplo, que 66% dos americanos considerariam “anuidades do ensino superior custeadas pelo governo” uma solução “muito eficaz” ou “razoavelmente eficaz” para as barreiras sociais, sendo que mais da metade dessas pessoas a considerou “muito eficaz”.

A organização de promoção de políticas fundada pelos Koch, Americanos pela Prosperidade [Americans for Prosperity, AFP], fez campanha contra as anuidades gratuitas no ensino superior em 2016, uma ideia que estava se tornando um dos pilares da campanha presidencial de Bernie Sanders. A AFP de Wisconsin considerou se tratar de uma “péssima ideia”, e o diretor estadual da AFP do Colorado a classificou como “utópica”.

O salário mínimo de US$15/hora foi quase igualmente popular na pesquisa: 35% disseram que seria uma solução muito efetiva, e mais 30% consideraram que seria razoavelmente efetiva. Hoje, o salário mínimo federal nos EUA equivale a US$7,25/hora, chegando a 11,40 em Washington, o estado com o valor mais elevado.

Os irmãos Koch, e os grupos que eles apoiam, fazem campanha há décadas contra as leis de salário mínimo. Em 1980, quando David Koch concorreu na chapa de Ed Clark pelo Partido Libertário, com o objetivo de se tornar vice-presidente, sua plataforma incluía a promessa de extinguir todas as leis de salário mínimo. Esse projeto continuou nos grupos que os Koch financiaram ao longo dos anos. A Americans for Prosperity e suas afiliadas estaduais fazem campanha contra aumentos do salário mínimo nas legislações municipais, estaduais e federais, com direito a lobby no Congresso.

Um terço dos respondentes da pesquisa acreditam que maior regulação de Wall Street seria uma medida muito eficaz, e 36% disseram que seria razoavelmente eficaz. Aproximadamente 7 a cada 10 respondentes disseram que o aumento no apoio do governo ao cuidado infantil seria uma resposta política muito ou razoavelmente eficaz às barreiras sociais.

A maior preocupação das pessoas entrevistadas foi o custo crescente da assistência de saúde: 92% disseram se tratar de um problema. Um total de 55% disse que um sistema público de assistência de saúde seria uma resposta política muito ou razoavelmente eficaz.

A ideia de assistência pública de saúde seria completamente inaceitável para a rede Koch. Os grupos apoiados pelos Koch fizeram campanha contra as reformas, como a Lei de Assistência Médica Acessível, conhecida como “Obamacare”, que implementariam controle, ainda que restrito, sobre o mercado privado, e que dariam subsídios públicos permitindo aos mais pobres ter cobertura. O Conselho Americano de Intercâmbio Legislativo, um grupo de nível estadual que faz pressão por legislações modelo, promoveu um texto que empurrava o Obamacare para o Judiciário. O Geração Oportunidade, o grupo estudantil dos Koch, pressionou os estudantes a não fazerem seguro-saúde, por meio de dispendiosos anúncios de TV e eventos em diversos campi. Os Veteranos Preocupados com a América, um outro grupo dos Koch, fez campanha pela privatização do Departamento de Assuntos de Veteranos por meio de vouchers.

Foto do Título: Charles Koch, líder das Indústrias Koch, em fala emocionada a respeito do seu livro sobre administração, em 26 de fevereiro de 2007.

Tradução: Deborah Leão

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