Foram as críticas, e não o puxa-saquismo, que ajudaram Neymar a melhorar na Copa

Foram as críticas, e não o puxa-saquismo, que ajudaram Neymar a melhorar na Copa

O craque reclamou das cobranças, mas depois delas evoluiu, até ser escolhido o melhor em campo na vitória de 2 a 0 sobre o México.

Foram as críticas, e não o puxa-saquismo, que ajudaram Neymar a melhorar na Copa

Quase ninguém gosta de ser criticado, e Neymar não foge à regra. Depois do segundo jogo da Copa, ele postou uma mensagem furibunda no Instagram:

“Nem todos sabem o que eu passei para chegar até aqui, falar até papagaio fala, agora fazer… poucos fazem!! O choro é de alegria, de superação, de garra e vontade de vencer. Na minha vida as coisas nunca foram fáceis, não seria agora, né!!! O sonho continua, sonho não… OBJETIVO! Parabéns pela partida rapaziada, vocês são FODA”.

A seleção acabara de derrotar a Costa Rica por 2 a 0, e Neymar fizera um gol. Assim que a partida terminou, as câmeras não se detiveram em Philippe Coutinho, que abrira o placar e seria escolhido o melhor do jogo. E sim no atacante do PSG, que chorava em campo.

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar

Na estreia, o Brasil empatara com a Suíça em 1 a 1. Neymar sofrera dez das 19 faltas cometidas pelo adversário. Em vez de passar com rapidez, segurou demais a bola. Deixou o gramado mancando, devido a uma pancada num tornozelo. Tivera um desempenho apagado, mesmo para quem convalescera por três meses de uma fratura no pé direito.
Neymar é o craque supremo brasileiro e um dos três maiores do planeta. Com o futebol frustrante, muita gente falou mais do seu novo corte de cabelo do que de bola. Elegeram Coutinho, também contra os suíços, o “homem do jogo”. A honra coube a Paulinho nos 2 a 0 contra a Sérvia.

Neymar evoluiu da primeira para a segunda partida, desta para a terceira, até a quarta, quando a Fifa o anunciou como o melhor no triunfo de 2 a 0 sobre o México. Alguém se preocupou com o penteado dele? A seleção enfrenta a Bélgica na sexta-feira, pelas quartas de final. A Copa já pisca um olho para o Brasil.

Ninguém finalizou tanto

Um jogador que ficou um trimestre de molho se aprimora, no físico e na técnica, pouco a pouco. Mas o progresso de Neymar foi muiiiiiiiito grande, em um período de críticas contundentes a ele. A despeito do seu discurso, condensado no recado no Instagram, parece claro que na prática Neymar entendeu as opiniões e mudou de atitude. Como as queixas ao mole dado ao receber um cartão amarelo por reclamação no confronto com os costa-riquenhos. Atendeu aos pedidos e desistiu de peitar os apitadores, até depois do pisão canalha que o mexicano Layún lhe perpetrou.

O progresso de Neymar foi muiiiiiiiito grande, em um período de críticas contundentes a ele.

Às dez faltas dos suíços em Neymar, somaram-se mais 13 no Mundial – a média caiu para 4,4 por jogo. O motivo determinante foi não reter a bola além do tempo recomendável. Ele marcou dois gols e deu um passe decisivo. Nenhum jogador das 32 equipes finalizou tanto na Rússia: 17 vezes, 12 delas na direção do gol.

“Falar até papagaio fala”, mas um dos “poucos” que “fazem” acatou os conselhos dos papagaios da vida. (“Papagaio” é um apelido de Galvão Bueno. Talvez tenha sido um toque do jogador para o locutor. Tudo é história e, às vezes, negócios: na Copa de 2014, Neymar e a TV Globo mantiveram um contrato de parceria.)

A ascensão de Neymar na Rússia renova uma velha lição, não exclusiva do futebol: críticas costumam ser mais úteis para quem quer melhorar do que o puxa-saquismo incapaz de apontar erros e estimular correções. Não tenho dúvida de que Tite e outros integrantes da delegação brasileira conversaram com o atacante. Bem como amigos dele. “[Neymar] está melhorando também nesse aspecto”, disse o técnico anteontem, abordando o “emocional” do camisa dez.

Os fanzocas que no início do Mundial só observaram a caçada de marcadores a Neymar, omitindo os vacilos do brasileiro, não contribuíram para ele render mais. Críticas ajudam, até quando se discorda delas. Porque estimulam a reflexão, abalam ou sedimentam convicções.

Ao melhorar, seleção faz menos faltas

O jeito com que Neymar começou jogando na Copa é a tese. As críticas foram a antítese. O futebol redondo de agora é a síntese. Na dialética da seleção, Willian fez na segunda-feira seu primeiro jogaço na Rússia. Por enquanto, Coutinho é nosso melhor boleiro na competição. Thiago Silva encanta. Neymar atropela. Ele não “cala” os críticos. Isso é tolice. Ao mudar para melhor, tabelou com quem identificava problemas. Se dependesse apenas dos sabujos, permaneceria na mesma.

Willian fez seu primeiro jogaço na Rússia nesta segunda-feira.

Willian fez seu primeiro jogaço na Rússia.

Foto: Rodolfo Buhrer /Folhapress

Impressionado com a confiança crescente transmitida pela seleção, fui beber numa fonte que eu não frequentava desde os meus tempos de repórter e colunista esportivo, as estatísticas da Fifa. Descobri que, quanto mais o time melhora, menos faltas faz. Principiou com 12 (contra a Suíça) e baixou para 11 (Costa Rica), 7 (Sérvia) e 6 (México). É possível jogar muito e bater pouco, ou não bater. Um belo recado competitivo, estético e ideológico ao mundo.

É possível jogar muito e bater pouco, ou não bater. Um belo recado competitivo, estético e ideológico ao mundo.

A defesa tem se apresentado tão segura que Alisson é pouco exigido. O goleiro lembra o Taffarel de 94. A seleção de Parreira tinha um sistema defensivo vigoroso, sobretudo em virtude do meio de campo pegador, com Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho. A de Tite se protege com a participação intensa de todos os jogadores, inclusive os atacantes. Com Neymar melhor depois das críticas, as chances do hexa aumentaram.

P.S.: ainda há algum antropólogo de ocasião dizendo que “a Copa não vai pegar”?

Foto em destaque: Neymar comemora gol contra o México nas oitavas de final da Copa.

S.O.S Intercept

Peraí! Antes de seguir com seu dia, pergunte a si mesmo: Qual a chance da história que você acabou de ler ter sido produzida por outra redação se o Intercept não a tivesse feito?

Pense em como seria o mundo sem o jornalismo do Intercept. Quantos esquemas, abusos judiciais e tecnologias distópicas permaneceriam ocultos se nossos repórteres não estivessem lá para revelá-los?

O tipo de reportagem que fazemos é essencial para a democracia, mas não é fácil, nem barato. E é cada vez mais difícil de sustentar, pois estamos sob ataque da extrema direita e de seus aliados das big techs, da política e do judiciário.

O Intercept Brasil é uma redação independente. Não temos sócios, anúncios ou patrocinadores corporativos. Sua colaboração é vital para continuar incomodando poderosos.

Apoiar é simples e não precisa custar muito: Você pode se tornar um membro com apenas 20 ou 30 reais por mês. Isso é tudo o que é preciso para apoiar o jornalismo em que você acredita. Toda colaboração conta.

Estamos no meio de uma importante campanha – a S.O.S. Intercept – para arrecadar R$ 250 mil até o final do mês. Nós precisamos colocar nosso orçamento de volta nos trilhos após meses de queda na receita. Você pode nos ajudar hoje?

QUERO APOIAR

Entre em contato

Conteúdo relacionado

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar