A submachine gun, Germany, Berlin, 20. May 2015. Photo by: Robert Schlesinger/picture-alliance/dpa/AP Images

Marielle: 3 modelos de submetralhadora suspeitos e uma certeza – o assassino era atirador de elite

Os investigadores irĂŁo usar os trĂȘs modelos com munição real em uma reprodução simulada, que serĂĄ realizada nesta quinta-feira pela DH. A ideia Ă© constatar a perĂ­cia do atirador na cena do crime.

A submachine gun, Germany, Berlin, 20. May 2015. Photo by: Robert Schlesinger/picture-alliance/dpa/AP Images

O caso Marielle

Parte 10

Marielle Franco virou um sĂ­mbolo internacional apĂłs seu assassinato no dia 14 de março de 2018. Com os olhos do mundo no Rio de Janeiro, todos estĂŁo perguntando: #QuemMandouMatarMarielle? E por quĂȘ?


(este texto contém correção)

SĂŁo trĂȘs os modelos de submetralhadora que podem ter sido usados nas execuçÔes da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, na noite de 14 de março. Enquanto tentam descobrir o modelo exato – analisando as marcas deixadas nos cartuchos encontrados no chĂŁo da cena do crime – os investigadores da DivisĂŁo de HomicĂ­dios do Rio de Janeiro jĂĄ tĂȘm uma certeza: o assassino era um atirador de elite. Sobretudo, se for confirmado o uso de uma HK MP-5. A arma, desenvolvida na dĂ©cada de 60 pela empresa alemĂŁ Heckler & Koch, Ă© amplamente usada por equipes de elite da PolĂ­cia Militar brasileira (Bope e BatalhĂŁo de Choque), pelo ExĂ©rcito Brasileiro e pela PolĂ­cia Federal.

AtĂ© agora, a possibilidade mais contundente era que os disparos haviam sido feitos com uma pistola, possivelmente utilizando kit rajada – acessĂłrio que permite que a arma dispare tiros em sĂ©rie. No Ășltimo domingo, no entanto, a Rede Record apontou o que chamou de “erros da perĂ­cia inicial”. O principal deles: somente mais de um mĂȘs depois do crime os investigadores pediram informaçÔes para o Coordenadoria de Armas e Explosivos para saber quantas submetralhadoras existem oficialmente no Rio, onde elas estĂŁo e principalmente quem recebeu treinamento para usĂĄ-las. A hipĂłtese de o atirador ter usado uma pistola deveria ter sido descartada muito tempo antes, jĂĄ que uma pistola 9mm e uma submetralhadora deixam marcas diferentes nos estojos depois dos disparos.

Marielle: 3 modelos de submetralhadora suspeitos e uma certeza – o assassino era atirador de elite

Captura de tela do programa FantĂĄstico, que simulou o crime utilizando a imagem de uma pistola.

Imagem: Captura de tela/Reprodução/Fantåstico

VĂĄrios modelos de submetralhadora usam muniçÔes 9mm, porĂ©m, apenas estes trĂȘs modelos tĂȘm um perfil compacto, parecido com uma pistola, que, conforme relatos de testemunhas, seria a arma utilizada no crime.

Mais conhecida entre atiradores como MP-5, a submetralhadora dispara em trĂȘs tipo de cadĂȘncia: automĂĄtico rajadas (dispara de uma sĂł vez toda as balas do pente, que pode ter entre 15 e 30 muniçÔes), semi-automĂĄtico (um tiro a cada vez que o gatilho Ă© pressionado) ou bursts (pequenas rajadas de 2 e 3 tiros a cada vez que o gatilho Ă© pressionado). A arma Ă© considerada cara e de manutenção sofisticada – raramente Ă© encontrada com traficantes.

Ao longo dos 55 dias de investigaçÔes, outros dois possĂ­veis modelos de submetralhadora foram listados a partir da constatação de que o calibre usado na tocaia foi o 9x19mm Parabellum – balas desviadas de um lote comprado pela PolĂ­cia Federal. Em princĂ­pio, ele Ă© logo associado a pistolas, mas tambĂ©m “calça”, como dizem no jargĂŁo policial, em submetralhadoras curtas. SĂŁo os casos da israelense Micro Uzi, mais conhecida por Pistola Uzi – que na dĂ©cada de 80 era comum entre traficantes – e a americana Ingram Mac, que foi amplamente usada por militares durante a ditadura brasileira hĂĄ 50 anos. Desde 2010, 379 submetralhadoras foram apreendidas no Estado.

Marielle: 3 modelos de submetralhadora suspeitos e uma certeza – o assassino era atirador de elite

A Uzi, muito usada por traficantes no Rio durante os anos 80.

Foto: Sven Nackstrand/AFP/Getty Images

A Ingram Mac chegou a ser classificada como a arma preferida de integrantes de grupos de extermínio, os velhos justiceiros, que atuavam como xerifes na Baixada Fluminense. São eles os grupos que deram origem às milícias. Em comum, além do emprego de munição 9mm, essas armas podem ser manuseadas com abafadores ou silenciadores, que teriam sido usados no crime. Em alguns modelos de MP-5 e Ingram MAC-10, o sistema de redução de ruído jå vem integrado à arma.

Marielle: 3 modelos de submetralhadora suspeitos e uma certeza – o assassino era atirador de elite

A MAC-10, da fĂĄbrica Ingram, referĂȘncia dos grupos de extermĂ­nio da Baixada Fluminense.

Foto: Tom Pennington/Getty Images

Os investigadores irĂŁo usar os trĂȘs modelos com munição real em uma reprodução simulada, que serĂĄ realizada nesta quinta-feira pela DH. A ideia Ă© constatar a perĂ­cia do atirador na cena do crime e tentar simular seu nĂ­vel de experiĂȘncia com o armamento. Marielle foi atingida na cabeça por quatro das 13 balas disparadas pelo atirador, que fez uma sequĂȘncia de tiros precisos, atingindo em seguida o motorista Anderson Gomes.

Correção: 9 de maio, 9h13 

Devido a um erro de edição, uma versão anterior deste texto identificou erroneamente a data da reprodução do crime. O certo é quinta-feira, dia 10 de maio.

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