João Filho

Bloco que faria homenagem a torturadores temeu sofrer violência no carnaval

Justiça determinou a proibição do desfile do Bloco Porão do DOPS.

Bloco que faria homenagem a torturadores temeu sofrer violência no carnaval

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No momento em que a paulicéia tenta se levantar do túmulo do carnaval para cair na folia, um grupo bolsominions decide botar o bloco Porão do DOPS na rua. Será uma homenagem aos subterrâneos da delegacia onde se torturou e matou os que ousaram desafiar a ditadura.

Essa mesma meia dúzia de gatos pingados adoradores de Tio Sam já havia se juntado na Av. Paulista, em outubro de 2016, para apoiar a candidatura Trump. “O mundo decente quer Trump presidente!”, gritavam os representantes da decência paulistana.

Alguns meses depois, a mesma turminha reacionária voltou para a avenida para uma série de protestos contra a Lei de Imigração, que revoga o Estatuto do Estrangeiro de 1980, criado pela ditadura militar. A nova lei, proposta pelo senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), regulariza a entrada e a permanência de migrantes e está norteada pelos direitos humanos um prato cheio para a revolta de qualquer cidadão de bem. Os gritos de guerra e os cartazes deixavam claro o caráter xenófobo do movimento, apesar de 100% dos manifestantes serem descendentes de imigrantes. Um deles afirmou que a lei vejam só que escândalo! “democratiza a entrada de suspeitos e daqueles que não são cidadãos de bem, mas sim possíveis criminosos que podem se aproveitar das brechas da lei para trazer terror, crime e destruição”. No megafone, uma outra líder espalhava mais chorume no ar: “a comunidade europeia não quer mais os islâmicos que estupram as meninas”.

Esses lunáticos formam o grupo Direita São Paulo. Para eles, o secretário especial de assuntos estratégicos de Temer, Hussen Kalout, é membro do Hezbollah (parece que até o governo americano desconfiou), e as relações comerciais entre João Doria e Emirados Árabes são suspeitíssimas.

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Reprodução/Facebook

Reprodução/Facebook

O grupo foi ganhando adeptos e intensificando sua participação em protestos. Com mais de 200 mil seguidores no Facebook, os fascistóides do Direita São Paulo ainda organizaram o protesto contra a filósofa Judith Butler no SESC Pompéia, se juntaram ao MBL na Câmara para pressionar pelo bizarro projeto Escola Sem Partido, e convocaram uma marcha em apoio à candidatura de Jair Bolsonaro. Só close errado.

Reprodução/Facebook

Assassinos e torturadores do regime militar serão louvados. Haverá um concurso para escolher a melhor fantasia do delegado Sérgio Paranhos Fleury. O vencedor será agraciado um livro do Coronel Ustra. Os dois monstros serão os principais nomes a serem celebrados e contam com suas imagens estampando os cards que convidam para o bloco.

página do evento, os organizadores prometem “cerveja, opressão, carne, opressão e marchinhas opressoras”. “Se você é anticomunista, não pode perder! Venham à caça, soldados!”.

 

Apologia à tortura?

Procuradores do MP-SP entraram com uma ação tentando impedir que o bloco desfilasse com esse nome, alegando apologia ao crime de tortura. O vice-presidente do grupo disse cinicamente que não há apologia, porque, no seu entendimento, “não houve aplicação desse tipo de método aplicado durante a ditadura militar. O que a gente está pedindo é um revisionismo histórico”. A juíza entendeu que a proibição representaria censura prévia e violação da liberdade de expressão. Mandou seguir o baile, o que me pareceu correto.

No último sábado, um dos integrantes do bloco levou uns sopapos de antifascistas enquanto se dirigia a uma palestra sobre o regime militar na sede do Direita Brasil. O fã-clube da tortura reagiu com indignação  e repudiou a covardia. Só faltou clamarem pelos Direitos Humanos.

Os organizadores ficaram preocupadinhos com possíveis retaliações e resolveram alterar o endereço do evento, que seria em frente ao DOI-CODI, o famoso palco de tortura de presos políticos. Para a proteção dos viúvos da ditadura, agora o bloco desfilará em local fechado e endereço secreto, quase que clandestinamente. “A gente também queria sair na rua, mas como você percebeu aqui não é um país democrático”, lembrou o vice-presidente do grupo e fã da ditadura militar. “Como vão famílias, não quero ser responsável por uma carnificina”. Bom, então acho que podemos ficar tranquilos. Não haverá carnificina, apenas a exaltação dela.

Na última quinta-feira, uma decisão do TJ-SP mudou tudo. O bloco foi proibido de desfilar. É uma pena. Acho que esses reaças paulistanos tinham o direito de passar essa vergonha na avenida.

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