Brasília - O presidente Michel Temer anuncia medidas de estruturação de projetos de infraestrutura pelos estados e municípios com apoio do governo federal, no Palácio do Planalto (José Cruz/Agência Brasil)

Governo Temer completa 1 ano sem nada para comemorar

Um breve balanço de um governo trágico sob qualquer ponto de vista.

Brasília - O presidente Michel Temer anuncia medidas de estruturação de projetos de infraestrutura pelos estados e municípios com apoio do governo federal, no Palácio do Planalto (José Cruz/Agência Brasil)

Um ano após ter tomado definitivamente o poder com a ajuda do Congresso, Michel Temer e sua turma têm pouco a comemorar. São fracassos, recuos e vexames sucessivos em todas as áreas do governo. O balanço é desastroso. Trata-se de uma retumbante tragédia sob qualquer ponto de vista.

Até aqui, a grande marca do governo comandado por Michel Miguel Elias Temer Lulia é a forma camaleônica com que se relaciona com a sociedade. É austero com o povo, generoso com parlamentares e servil ao alto empresariado e ao mercado financeiro. Enquanto corta direitos das camadas da população que mais dependem do Estado, despeja rios de dinheiro sobre a Câmara e busca atender aos interesses do mercado através de reformas e vendas de estatais a preço de banana. Dessa forma, Temer tem garantido a blindagem contra às denúncias de corrupção que caem sobre sua cabeça.

 

Cortes no Bolsa Família e no Fies

Nada parece funcionar nesse governo. Boa parte das promessas feitas no início do mandato hoje soam como piada. Logo após a votação do impeachment na Câmara, em seu discurso de posse, Temer afirmou que “nenhuma das reformas alteraria os direitos adquiridos pelos cidadãos brasileiros”. Prometeu também, em letras garrafais para que ninguém duvidasse, que aprimoraria os programas sociais:

“reafirmo, e o faço em letras garrafais: vamos manter os programas sociais. O Bolsa Família, o Pronatec, o Fies, o Prouni, o Minha Casa Minha Vida, entre outros, são projetos que deram certo, e, portanto, terão sua gestão aprimorada”

Bem, nenhum desses programas foi aprimorado. Pelo contrário, eles foram dilacerados. O Bolsa Família sofreu o maior corte da história, justamente em um momento de crise econômica e desemprego. O Fies foi reduzido pela metade e os estudantes mais pobres agora estão sujeitos à análise de concessão de crédito de instituições financeiras privadas. No ano passado, o Minha Casa Minha Vida recebeu menos da metade do que recebeu em 2015 e, este ano, cumpriu até agora apenas 27% da meta, sendo que o atraso maior está na contratação dos imóveis de baixa renda. Esses são alguns dos muitos exemplos que refletem as prioridades deste governo.

Sem popularidade, sem legitimidade, mas com apoio maciço do Congresso e das elites, Temer decidiu colocar dos mais pobres a conta da crise econômica. Mas nem assim foi capaz de colocar a economia nos trilhos. O crescimento medíocre de 0.2%, baixíssimo para quem já não vinha crescendo nada, está entre os mais baixos do mundo no segundo trimestre deste ano. Só não é mais baixo que o aumento do PIB de Taiwan e Cingapura. Apesar de ter revertido uma sequência de 12 quedas, o tímido crescimento não mascara o desastre da política econômica, que deixará um rombo de R$159 bilhões para o próximo governo.

 

Nunca antes um presidente tão impopular

Temer bateu todos os recordes de rejeição e é o presidente mais mal avaliado da história do país. 93% do povo brasileiro está insatisfeito com o presidente. Não é de se estranhar. Foi eleito para ser vice-presidente de uma chapa de coalizão de centro-esquerda, mas tomou o poder com o objetivo de estancar a sangria e implantar o programa de centro-direita de Aécio Neves, derrotado nas eleições.

Temer também prometeu proteger a Lava Jato:

“A moral pública será permanentemente buscada por meio dos instrumentos de controle e apuração de desvios. Nesse contexto, tomo a liberdade de dizer que a Lava Jato tornou-se referência e como tal, deve ter proteção contra qualquer tentativa de enfraquecê-la”.

Essa talvez seja a melhor anedota de todas. Temer falou isso como se a gente não conhecesse o roteiro da trama revelado no áudio do Jucá. O presidente fez o diabo para sufocar a Lava Jato. Houve troca de ministro da Justiça para tentar retomar influência na PF, redução da equipe da força-tarefa e um grande corte de verbas para a instituição.

Apesar dos esforços, a sangria não foi completamente estancada. Uma nova denúncia de Janot contra Temer está quentinha na boca do forno. Na semana de aniversário do golpe, novos elementos surgiram na investigação contra Temer por obstrução de justiça e formação de quadrilha. O ex-doleiro e operador de Cunha, Lúcio Funaro, revelou em delação que Joesley teria comprado o seu silêncio.

Janot pretende complementar essa nova informação com a delação de Joesley, que é sustentada pelo famoso áudio em que o empresário afirma que está pagando mensalmente a  Cunha e o presidente responde que “tem que manter isso aí, viu”.

Assim, Janot acredita que pode confirmar definitivamente a tese de que Temer e Joesley pagaram para que Cunha e Funaro não revelassem mais nada sobre esquemas de corrupção que envolvem a cúpula do PMDB. Mas, convenhamos, sabemos que isso não dará em nada. O Grande Acordo Nacional se mostrou firme após o arquivamento da primeira denúncia de Janot pela Câmara.

Enquanto sua antecessora já coleciona 5 absolvições, Michel Temer entrará para a história como o único presidente denunciado criminalmente. O aniversário de um ano não poderia ser comemorado de forma mais emblemática. Temos o presidente na China, Shéridan no comando da reforma política, Rodrigo Maia presidente da República e Fufuquinha presidente da Câmara.

S.O.S Intercept

Peraí! Antes de seguir com seu dia, pergunte a si mesmo: Qual a chance da história que você acabou de ler ter sido produzida por outra redação se o Intercept não a tivesse feito?

Pense em como seria o mundo sem o jornalismo do Intercept. Quantos esquemas, abusos judiciais e tecnologias distópicas permaneceriam ocultos se nossos repórteres não estivessem lá para revelá-los?

O tipo de reportagem que fazemos é essencial para a democracia, mas não é fácil, nem barato. E é cada vez mais difícil de sustentar, pois estamos sob ataque da extrema direita e de seus aliados das big techs, da política e do judiciário.

O Intercept Brasil é uma redação independente. Não temos sócios, anúncios ou patrocinadores corporativos. Sua colaboração é vital para continuar incomodando poderosos.

Apoiar é simples e não precisa custar muito: Você pode se tornar um membro com apenas 20 ou 30 reais por mês. Isso é tudo o que é preciso para apoiar o jornalismo em que você acredita. Toda colaboração conta.

Estamos no meio de uma importante campanha – a S.O.S. Intercept – para arrecadar R$ 250 mil até o final do mês. Nós precisamos colocar nosso orçamento de volta nos trilhos após meses de queda na receita. Você pode nos ajudar hoje?

QUERO APOIAR

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar