Este artigo contém imagens fortes.
Nesta semana, três anos após o Estado Islâmico tomar Mossul, no Iraque, o primeiro-ministro do país, Haider al-Abadi foi à cidade para proclamar a libertação do território e declarar vitória depois de um cerco de nove meses, apesar de ainda haver confrontos nas últimas áreas sob domínio do EI.
“Anuncio daqui o fim, o fracasso e o colapso do Estado terrorista de falsidade e terror”, declarou al-Abadi na segunda-feira.
Mas o custo do combate ao Estado Islâmico tem sido altíssimo para o Iraque. Áreas inteiras de grandes cidades como Mossul e Fallujah estão em ruínas. Dezenas de milhares de iraquianos foram mortos ou feridos. Minorias, como os yazidis e os cristãos, sofreram genocídio. Apesar de Mossul ter sido retomada pelo governo central, cidades como Tal Afar e Hawija continuam sob domínio do EI. Enquanto isso, centenas de milhares de iraquianos estão confinados em campos de refugiados espalhados pelo país, à espera de um futuro incerto.
Cengiz Yar, fotojornalista norte-americano baseado no Iraque, montou um arquivo visual desse tormentoso período da história do país para mostrar as operações militares de retomada de Mossul, o impacto da guerra na vida dos civis e a resiliência do povo iraquiano, mesmo após anos sendo massacrado por um poder totalitário. “Eu vi pessoas atravessarem correndo áreas de fogo cruzado [em direção às regiões controladas pelo governo] para escapar do EI”, conta Yar. “Quando conseguiam atravessar, eram acolhidas pelos soldados, que elas abraçavam, beijavam e agradeciam por terem vindo salvá-las”.
Hoje, cidadãos comuns iraquianos sentem de tudo, “do júbilo ao desespero”, afirma o fotógrafo. “Muitos estão simplesmente felizes por terem sido libertados do EI, enquanto outros, que perderam seus lares e suas famílias, se perguntam o que ainda restou depois disso tudo”.
As Forças Especiais Iraquianas, o Exército Iraquiano, a Polícia Federal e a Unidade de Resposta Rápida integram a coalizão que combate o EI. Os Estados Unidos e outros parceiros dão apoio aéreo. Milhares de pessoas perderam a vida ou ficaram feridas no confronto, descrito por comandantes norte-americanos como “o conflito urbano mais letal desde a Segunda Guerra Mundial”.
“As forças iraquianas estão pagando um preço muito caro. Todos os soldados com quem conversei perderam amigos ou familiares. Muitos deles foram feridos em combate, três ou quatro vezes”, afirma Yar. “Ao longo de todo o conflito, muitos desses caras ficavam feridos, eram tratados e voltavam para o campo de batalha assim que podiam”.
A guerra ao EI é o capítulo mais recente de uma série de conflitos que vem dilacerando a sociedade iraquiana, da guerra contra o Irã nos anos oitenta à invasão norte-americana em 2003, passando pela Guerra do Golfo. Vivendo em um estado de guerra quase permanente, o povo desenvolveu um profundo pessimismo.
“Soldados iraquianos com quem conversei acham que o conflito nunca vai acabar e que o Iraque nunca vai conseguir estabilidade”, conta Yar. “Muita gente acredita que, depois que o EI for derrotado, vai surgir algo como um ‘EI2’. Sempre vai ter alguma coisa”.
Espantar esse fatalismo será uma das principais tarefas para os líderes iraquianos e para a comunidade internacional. Se não derem segurança e senso de esperança aos tantos iraquianos que perderam suas casas, suas famílias e seu sustento, uma nova onda de conflitos civis pode ser inevitável.
“Muita gente que está nos campos de refugiados simplesmente não tem ideia de quando vai conseguir ir para casa. E, se conseguir, acredita que suas famílias não estarão mais em segurança”, afirma Yar. “Essa guerra começou, em parte, por conta da falta de confiança no governo e da capacidade das células [do EI] de explorar essa situação e dominar o território usando táticas de gangue”.
“É bem possível que isso venha a se repetir no futuro se não for resolvido direito”.
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