Governo ignora trabalhadores e segue firme com mudanças que beneficiam empresários

Governo ignora trabalhadores e segue firme com mudanças que beneficiam empresários

Entre manobras e protestos, Câmara aprova drásticas mudanças na CLT às vésperas de greve geral.

Governo ignora trabalhadores e segue firme com mudanças que beneficiam empresários

Avaliada pelo Palácio do Planalto como um teste vital para a continuidade de outras reformas, a aprovação da reforma trabalhista nesta quarta fez crescer no governo a sensação de que a batalha pela aprovação da Reforma da Previdência será ainda mais árdua. A começar pelo alto número de traições: foram mais de 80. E o governo tem no horizonte motivos de grandes preocupações – entre elas, a proximidade da greve geral, marcada para esta sexta (28).

A sessão desta quarta, que durou mais de 10 horas, foi marcada por protestos da oposição e mais manobras da base aliada do governo. Temendo deixar a digital no resultado final, deputados governistas articulavam que a votação fosse simbólica, ao invés de nominal. Em votações simbólicas, os deputados dizem se aprovam ou não o texto, mas sem possibilidade de saber como cada deputado votou. Após a oposição ameaçar que não haveria acordo e que dificultaria mais ainda as próximas sessões, o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP/PB), anunciou o recuo e afirmou que o governo apoiaria a votação nominal da proposta.

Quem acompanhou as discussões antes da votação percebeu que os lados estavam bem divididos em relação à proposta. Para o governo, o texto era o melhor dos mundos e a saída para tirar o Brasil da crise econômica. Na trincheira da oposição, o sentimento era de que não havia possibilidade de discutir mudanças nas leis trabalhistas.

Reforma Trabalhista beneficia a quem?

A perversidade da Reforma Trabalhista está ligada umbilicalmente aos pensadores do texto. Ontem, The Intercept Brasil revelou que, após exame das 850 emendas apresentadas por 82 deputados durante a discussão do projeto na comissão especial, 292 (34,3%) foram integralmente redigidas em computadores de representantes da Confederação Nacional do Transporte (CNT), da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística).

Por mais que o governo rebata as críticas à reforma, The Intercept Brasil esclareceu sobre os pontos críticos da reforma, que atingirá o coração dos direitos trabalhistas brasileiros.

Apesar da aprovação, um clima de apreensão rastejava pelos corredores do Palácio do Planalto. A votação da trabalhista era considerada importantíssima para o governo, como forma de testar a fidelidade da base aliada, e um teste para a votação mais espinhosa, da Reforma da Previdência, que precisa de no mínimo 308 votos para ser aprovada. Como demonstração de força, nos bastidores, o governo trabalhava para que a trabalhista tivesse mais de 320, o que acabou não ocorrendo.

https://twitter.com/GeorgMarques/status/857406674482712577

Outro fator de preocupação para o governo centrava na dissidência aberta pelo PSB, partido da base aliada do governo. No início da semana, o Diretório Nacional do partido orientou que sua base votasse contrária às reformas trabalhista e previdenciária. Diante do painel eletrônico, a bancada se dividiu. Dos 30 parlamentares da legenda presentes em plenário, 14 votaram com o governo e 16, contra.

https://twitter.com/GeorgMarques/status/856644923201908736

“A demonstração de que o governo Temer é fraco é que ele mandou seus ministros filiados ao PSB para votar a reforma”

“A demonstração de que o governo Temer é fraco é que ele mandou seus ministros filiados ao PSB para votar a reforma”, alfinetou o deputado Julio Delgado (PSB/MG) em discurso no plenário da Câmara. Na tarde da votação, Temer exonerou o ministro Fernando Bezerra Coelho Filho (PSB/PE), do Ministério de Minas e Energia, para que ele votasse favoravelmente à proposta, contrariando orientação do direção nacional do PSB.

Em defesa da reforma trabalhista, no plenário o líder do PSDB Ricardo Tripolli (PSDB/SP) na Câmara afirmou que o discurso anti-imperialistas estaria superado e que, por isso, o projeto seria aprovado. “Sem capital não se gera emprego. Temos consciência de nossa responsabilidade”, argumentou.

Por nota, Temer pediu “o mesmo grau de engajamento” dos parlamentares para que também aprovem o projeto no Senado e que o resultado da aprovação mostra que a sociedade quer “adequar” as relações trabalhistas para o presente e para o futuro.

Planalto monitora greve geral

Receoso de que o parlamento possa sofrer interferências e pressões externas com a greve geral – e que isso possa interferir no resultado final da Previdência – a orientação no Planalto é monitorar o alcance das manifestações e manter o tom máximo de normalidade no dia da greve. Num governo de surdos e mudos, a ordem-primeira é ignorar as manifestações e manter-se firme nas propostas que fortalecerão o empresariado brasileiro.

S.O.S Intercept

Peraí! Antes de seguir com seu dia, pergunte a si mesmo: Qual a chance da história que você acabou de ler ter sido produzida por outra redação se o Intercept não a tivesse feito?

Pense em como seria o mundo sem o jornalismo do Intercept. Quantos esquemas, abusos judiciais e tecnologias distópicas permaneceriam ocultos se nossos repórteres não estivessem lá para revelá-los?

O tipo de reportagem que fazemos é essencial para a democracia, mas não é fácil, nem barato. E é cada vez mais difícil de sustentar, pois estamos sob ataque da extrema direita e de seus aliados das big techs, da política e do judiciário.

O Intercept Brasil é uma redação independente. Não temos sócios, anúncios ou patrocinadores corporativos. Sua colaboração é vital para continuar incomodando poderosos.

Apoiar é simples e não precisa custar muito: Você pode se tornar um membro com apenas 20 ou 30 reais por mês. Isso é tudo o que é preciso para apoiar o jornalismo em que você acredita. Toda colaboração conta.

Estamos no meio de uma importante campanha – a S.O.S. Intercept – para arrecadar R$ 250 mil até o final do mês. Nós precisamos colocar nosso orçamento de volta nos trilhos após meses de queda na receita. Você pode nos ajudar hoje?

QUERO APOIAR

Entre em contato

Conteúdo relacionado

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar