A foto do ex-governador Sérgio Cabral com a cabeça raspada e uniforme da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) após dar entrada no presídio de Bangu 8, no Rio de Janeiro, ficou entre as notícias mais lidas nos portais de informação do Brasil nesta sexta-feira, dia 18. Ela é motivo de preocupação para outros 11 ex-governadores: aqueles que estavam comandando os estados que receberam partidas da Copa do Mundo em 2014.
Cabral foi preso por chefiar um esquema de corrupção que desviou R$ 224 milhões dos cofres públicos. O dinheiro deveria ter sido gasto em obras financiadas pelo governo federal, entre elas a reforma do estádio Maracanã para a Copa do Mundo de 2014. As construções ou reformas dos 12 estádios, que custaram R$ 8,3 bilhões, foram feitas pelas mesmas empreiteiras investigadas na operação Lava-Jato.Em alguns casos, investigações foram abertas pela Polícia Federal, ou assembleias estaduais e municipais começaram a tomar providências para investigar as obras. A Assembleia do Rio, motivada pela prisão do ex-governador, abriu duas CPIs, uma delas sobre a Copa.
Isso nos leva à seguinte questão:
Cadê a CPI da Copa?!
A prisão do ex-governador do Rio de Janeiro evoca a tão pedida Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) no Congresso Nacional para investigar as obras da Copa. Parlamentares foram ao púlpito na Câmara e no Senado para pedir CPIs e investigações, mas, na hora de colocar o discurso em prática, não demonstraram tanta gana quanto sob a mira das lentes da TV Senado.
Proposta em 2013 pelo deputado Izalci (PSDB), a comissão não saiu do papel por falta de assinaturas. Era necessário o endosso de 27 senadores e 171 deputados para que os trabalhos fossem abertos. Porém, quatro senadores retiraram suas assinaturas em cima da hora, impossibilitando a criação da comissão. Foram eles: Zezé Perrela (PDT-MG), João Durval (PDT-BA), Jayme Campos (DEM-MT) e Clésio Andrade (PMDB-MG).
“Na época em que eu coletei as assinaturas já havia uma pressão do governo para não haver a CPMI. Houve uma atitude que prejudicou as investigações, porque eles tinham assinado e, pouco antes da meia-noite, que era o prazo para assinaturas, mandaram retirar. Então já era um sinal de que havia alguma coisa e eles não queriam apurar”, lembra o deputado Izalci, que acredita que este assunto “ficou na gaveta, mas virá à tona com a Lava Jato”. Ele prevê que, com a investigação sobre as empreiteiras, logo aparecerão informações sobre os estádios.
Em 2015, o assunto voltou a ser abordado no Congresso, dessa vez, na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR). Na audiência pública realizada dia 9 de dezembro, representantes do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Ministério das Cidades fizeram apresentações mostrando relatórios sobre suas análises acerca das obras, principalmente de infraestrutura e transporte. A conclusão é dura: foram investidos mais de R$ 25 bilhões, mas há um conjunto de obras de mobilidade e de infraestrutura ainda não finalizado.Mesmo um ano depois da competição, ainda havia sinal de obras atrasadas ou entregues de forma incompletas. Abaixo, um extrato da apresentação do Ministério das Cidades com o status das obras de mobilidade pelo país:
The Intercept Brasil tentou entrar em contato com os técnicos do Ministério das Cidades e do TCU sobre o status atual das obras. O secretário Rafael Jardim Cavalcante atualmente trabalha em uma secretaria especial criada para averiguar as contas da Lava Jato, ele respondeu por meio de assessoria que “agradece o convite, mas declina”. Já Luiza Gomide de Faria, então diretora do Departamento de Mobilidade Urbana do ministério, foi exonerada após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do ministério, que não pode responder.A última saída para o debate deste assunto no plenário seria a CPI do Futebol, que se propôs a investigar o comitê organizador local (COL) e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Mas o grupo se limitou a investigar os cartolas, deixando de lado as obras. O relator, senador Romero Jucá (PMDB) entregou o relatório em maio e, desde então, os trabalhos estão parados.
A falta de respostas e de vontade para debater o assunto no Congresso mostra que a classe política não tem interesse pelo assunto. Talvez as fotos de Sérgio Cabral guardem o motivo.
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