Os Estados Unidos são únicos em muitos aspectos, mas o mais importante deles é que temos mais de 240 anos ininterruptos de transições de poder democráticas e pacíficas. As forças armadas seguem ordens de civis e, por isso, nunca tivemos um golpe. Presidentes que perdem eleições deixam o cargo, de forma que nunca tivemos uma revolução armada.
Nenhum outro país no mundo chega perto dos EUA nesse sentido. É, de longe, a mais valiosa herança política do povo americano.
Portanto, não deve ser uma surpresa que alguém com o caráter de Donald Trump se declare satisfeito por jogar a tradição no lixo, como um casino que dá prejuízo ou uma primeira esposa de 40 anos.
Ao ser questionado pelo moderador Chris Wallace se “aceitaria o resultado da eleição inquestionavelmente”, Trump respondeu “vou ver quando a hora chegar” e seguiu com uma longa bravata sobre como a eleição está sendo fraudada em seu detrimento.
O chilique de Trump tem de ser analisado no contexto da história americana: Quase todas as revoluções terminam com os vencedores se agarrando ao poder até serem removidos à força. O aspecto mais impressionante da Revolução Americana não é que George Washington tenha chegado ao poder, mas o fato de ele ter saído do cargo voluntariamente depois de dois mandatos. Os EUA cultivam uma tradição de aceitar o resultado de eleições mesmo sob as condições mais questionáveis. Por exemplo, no final da corrida presidencial de 1968 entre Richard Nixon e Hubert Humphrey, o presidente Johnson descobriu que Nixon vinha negociando secretamente com o governo do Vietnã do Sul para garantir o prolongamento da guerra e impedir o acordo de paz que ajudaria Humphrey.
Johnson pensou em tornar esse fato público. Porém, seu assessor, Clark Clifford, o confidenciou que “alguns elementos da história têm uma natureza tão chocante que estou me perguntando se a revelação da história seria positiva para o país e, possivelmente, acabar elegendo [Nixon]. Isso poderia colocar toda a sua administração sob tamanha dúvida que acho que seria prejudicial aos interesses de nosso país”.
No ano 2000, Al Gore concedeu a vitória a George W. Bush, mesmo que Gore tenha vencido no voto popular, ainda que a recontagem de votos na Flórida tenha ocorrido em um estado governado pelo irmão de Bush, Jeb, e mesmo que os cinco juízes do Supremo Tribunal que votaram pela interrupção da recontagem tenham sido indicados pelo pai de Bush.
Veja o que Gore disse após ligar para Bush:
Stephen Douglas disse a Abraham Lincoln, que havia acabado de derrotá-lo na eleição presidencial, “O sentimento partidário precisa se render ao patriotismo. Estou com você, Senhor Presidente, e Deus o abençoe”.
Bem, nesse mesmo espírito, digo ao Presidente eleito Bush que o que resta de rancor partidário deve ser deixado de lado, e que Deus abençoe sua administração do país.
Muitas coisas e pessoas são denominadas de “não-americanas” e quase nunca isso é verdade. Mas Donald Trump é verdadeiramente “não-americano”.
2026 já começou, e as elites querem o caos.
A responsabilização dos golpistas aqui no Brasil foi elogiada no mundo todo como exemplo de defesa à Democracia.
Enquanto isso, a grande mídia bancada pelos mesmos financiadores do golpe tenta espalhar o caos e vender a pauta da anistia, juntamente com Tarcísio, Nikolas Ferreira, Hugo Motta e os engravatados da Faria Lima.
Aqui no Intercept, seguimos expondo os acordos ocultos do Congresso, as articulações dos aliados da família Bolsonaro com os EUA e o envolvimento das big techs nos ataques de Trump ao Brasil.
Os bastidores mostram: as próximas eleições prometem se tornar um novo ensaio golpista — investigar é a única opção!
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