LAS VEGAS, NV - OCTOBER 19: Republican presidential nominee Donald Trump walks off stage after the third U.S. presidential debate at the Thomas & Mack Center on October 19, 2016 in Las Vegas, Nevada. Tonight is the final debate ahead of Election Day on November 8.  (Photo by Drew Angerer/Getty Images)

Trump despreza a mais importante tradição democrática

O candidato republicano à presidência dos EUA se recusou a confirmar se aceitaria o resultado das eleições caso perdesse. A tradição tem mais de 200 anos de história.

LAS VEGAS, NV - OCTOBER 19: Republican presidential nominee Donald Trump walks off stage after the third U.S. presidential debate at the Thomas & Mack Center on October 19, 2016 in Las Vegas, Nevada. Tonight is the final debate ahead of Election Day on November 8.  (Photo by Drew Angerer/Getty Images)

Os Estados Unidos são únicos em muitos aspectos, mas o mais importante deles é que temos mais de 240 anos ininterruptos de transições de poder democráticas e pacíficas. As forças armadas seguem ordens de civis e, por isso, nunca tivemos um golpe. Presidentes que perdem eleições deixam o cargo, de forma que nunca tivemos uma revolução armada.

Nenhum outro país no mundo chega perto dos EUA nesse sentido. É, de longe, a mais valiosa herança política do povo americano.

Portanto, não deve ser uma surpresa que alguém com o caráter de Donald Trump se declare satisfeito por jogar a tradição no lixo, como um casino que dá prejuízo ou uma primeira esposa de 40 anos.

Ao ser questionado pelo moderador Chris Wallace se “aceitaria o resultado da eleição inquestionavelmente”, Trump respondeu “vou ver quando a hora chegar” e seguiu com uma longa bravata sobre como a eleição está sendo fraudada em seu detrimento.

O chilique de Trump tem de ser analisado no contexto da história americana: Quase todas as revoluções terminam com os vencedores se agarrando ao poder até serem removidos à força. O aspecto mais impressionante da Revolução Americana não é que George Washington tenha chegado ao poder, mas o fato de ele ter saído do cargo voluntariamente depois de dois mandatos. Os EUA cultivam uma tradição de aceitar o resultado de eleições mesmo sob as condições mais questionáveis. Por exemplo, no final da corrida presidencial de 1968 entre Richard Nixon e Hubert Humphrey, o presidente Johnson descobriu que Nixon vinha negociando secretamente com o governo do Vietnã do Sul para garantir o prolongamento da guerra e impedir o acordo de paz que ajudaria Humphrey.

Johnson pensou em tornar esse fato público. Porém, seu assessor, Clark Clifford, o confidenciou que “alguns elementos da história têm uma natureza tão chocante que estou me perguntando se a revelação da história seria positiva para o país e, possivelmente, acabar elegendo [Nixon]. Isso poderia colocar toda a sua administração sob tamanha dúvida que acho que seria prejudicial aos interesses de nosso país”.

No ano 2000, Al Gore concedeu a vitória a George W. Bush, mesmo que Gore tenha vencido no voto popular, ainda que a recontagem de votos na Flórida tenha ocorrido em um estado governado pelo irmão de Bush, Jeb, e mesmo que os cinco juízes do Supremo Tribunal que votaram pela interrupção da recontagem tenham sido indicados pelo pai de Bush.

Veja o que Gore disse após ligar para Bush:

Stephen Douglas disse a Abraham Lincoln, que havia acabado de derrotá-lo na eleição presidencial, “O sentimento partidário precisa se render ao patriotismo. Estou com você, Senhor Presidente, e Deus o abençoe”.

Bem, nesse mesmo espírito, digo ao Presidente eleito Bush que o que resta de rancor partidário deve ser deixado de lado, e que Deus abençoe sua administração do país.

Muitas coisas e pessoas são denominadas de “não-americanas” e quase nunca isso é verdade. Mas Donald Trump é verdadeiramente “não-americano”.

S.O.S Intercept

Peraí! Antes de seguir com seu dia, pergunte a si mesmo: Qual a chance da história que você acabou de ler ter sido produzida por outra redação se o Intercept não a tivesse feito?

Pense em como seria o mundo sem o jornalismo do Intercept. Quantos esquemas, abusos judiciais e tecnologias distópicas permaneceriam ocultos se nossos repórteres não estivessem lá para revelá-los?

O tipo de reportagem que fazemos é essencial para a democracia, mas não é fácil, nem barato. E é cada vez mais difícil de sustentar, pois estamos sob ataque da extrema direita e de seus aliados das big techs, da política e do judiciário.

O Intercept Brasil é uma redação independente. Não temos sócios, anúncios ou patrocinadores corporativos. Sua colaboração é vital para continuar incomodando poderosos.

Apoiar é simples e não precisa custar muito: Você pode se tornar um membro com apenas 20 ou 30 reais por mês. Isso é tudo o que é preciso para apoiar o jornalismo em que você acredita. Toda colaboração conta.

Estamos no meio de uma importante campanha – a S.O.S. Intercept – para arrecadar R$ 250 mil até o final do mês. Nós precisamos colocar nosso orçamento de volta nos trilhos após meses de queda na receita. Você pode nos ajudar hoje?

Apoie o Intercept Hoje

Entre em contato

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar