Apenas um dia após o intercept brasil revelar como o Instituto Conhecer Brasil, ICB, presidido por Karina Ferreira da Gama, recebeu milhões da prefeitura de São Paulo, vereadores e deputados enviaram ao Ministério Público de São Paulo, o MPSP, duas solicitações de abertura de inquérito civil para apurar o caso. Agora, o contrato que beneficiou a ONG da produtora-executiva da cinebiografia do ex-presidente Jair Bolsonaro pode ser alvo de uma investigação.
Em uma ação conjunta, a deputada federal Luciene Cavalcante, o deputado estadual Celso Giannazi e o vereador Carlos Giannazi, do PSOL de São Paulo, enviaram uma denúncia ao MP de São Paulo nesta quinta-feira, 11. Os parlamentares pediram a apuração da responsabilidade do prefeito Ricardo Nunes, do MDB, a suspensão imediata do contrato ou o ajuizamento de uma ação civil pública, caso o chamamento não seja interrompido.

O vereador paulistano Nabil Bonduki, do PT, também solicitou ao órgão investigações do chamamento público em uma representação enviada na quarta, 10.
Em uma seleção sem concorrência e nenhuma experiência prévia no setor de fornecimento de internet ou telecomunicações, o ICB venceu o edital para implementação de 5.000 pontos de Wi-Fi por R$ 108 milhões. O acordo firmado em junho do ano passado com a Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia, SMIT, na gestão de Ricardo Nunes, ultrapassa os valores praticados pela própria prefeitura, que já chegou a pagar menos que a metade pelo mesmo serviço.
O Intercept constatou que, do total de roteadores previstos no contrato inicial, o ICB instalou somente 3.200 e deveria receber R$ 43 milhões pela manutenção e disponibilização dos pontos de Wi-Fi por um ano, cujo valor unitário mensal é de R$ 1.800. No entanto, recebeu R$ 69 milhões, o equivalente a R$ 26 milhões a mais.
“Cabe à prefeitura justificar o que foi feito, porque pelas nossas apurações e pelo que vocês apuraram tem uma série de irregularidades muito sérias nesse processo. Um serviço como esse não tem sentido ser feito por uma ONG, ainda mais uma que não tem nenhuma expertise nesse assunto, quem deveria realizar são empresas de tecnologia que poderiam inclusive apresentar um melhor serviço por um menor preço”, disse Nabil Bonduki ao Intercept.
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Conforme revelamos, um relatório do Tribunal de Contas dos Municípios apontou ao menos 20 irregularidades no edital e recomendou o não prosseguimento do processo. Entre outras inconsistências, a corte questionou os critérios de aferição de experiência e a escolha de uma ONG para prestação do serviço.
No documento protocolado no Ministério Público de São Paulo, o Bunduki argumentou que fatores como a competitividade do chamamento público, a natureza e perfil institucional da entidade prestadora dos serviços, além de três aditamentos contratuais reforçam as inconsistências e “impõe a necessidade de apuração” do processo.
Bonduki solicitou a abertura de um inquérito civil para investigar o chamamento público e pediu que o órgão verifique a implantação dos pontos de internet nas comunidades.
“Pelo que já foi constatado, a ONG recebeu por um número de pontos muito maior do que aqueles que efetivamente foram implantados, então tem que ser investigado, porque é claramente um repasse de recursos sem a contrapartida do serviço realizado”, afirmou. Nabil Bonduki pontuou ainda o número de subcontratações realizadas, que somaram R$ 98 milhões.
Presidente da ONG é dona da produtora do filme de Bolsonaro
Além de presidente do ICB, Karina Ferreira da Gama é a única sócia da empresa Go Up Entertainment, responsável pela produção de “Dark Horse”, a cinebiografia do ex-presidente Jair Bolsonaro. Mesmo sem experiência prévia no cinema, Karina é apontada como produtora-executiva da obra – cuja fonte de financiamento ainda não é clara.
Nos últimos anos, outras empresas ligadas à produtora-executiva receberam milhões em recursos públicos. Em 2025, por exemplo, o ICB recebeu R$ 2 milhões em emendas Pix do deputado Mário Frias, do PL.
Frias, que também é roteirista do filme, contratou os serviços de outro CNPJ de Karina durante as eleições de 2022. À época, a Conhecer Brasil Assessoria Produção e Mkt Cultural recebeu R$ 54 mil pelas atividades realizadas durante a campanha.
Nós seguiremos de olho nessa história – e nos desdobramentos dessa investigação.
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