Facebook lucrou com posts incentivando violência no 7 de setembro, diz relatório

ONG encontrou violações da lei, incitação à violência e discurso de ódio em anúncios. Relatório compara o papel da Meta na disseminação de desinformação à invasão do Capitólio.


No dia 23 de agosto, uma loja de armas e artigos militares fez um post no Facebook com uma foto de uma faca de combate e um óculos tático que estavam à venda. Para promover seus produtos, usou hashtags como #armamentista, #treinamento, #semanadapatria, #7desetembro e #setedesetembro – uma referência aos atos programados para esta quarta-feira.

Reportado pela ONG SumofUs, que lançou um relatório nesta segunda-feira sobre o papel da Meta, dona do Facebook, na promoção da narrativa antidemocrática, o anúncio foi suspenso. Mas outro, bem parecido, ainda está no ar. Ou seja: a Meta não apenas liberou anúncios com objetos de combate relacionados ao ato, como aceitou lucrar com eles.

Usando oito hashtags comumente associadas aos eventos de 7 de setembro, os pesquisadores identificaram manualmente anúncios relacionados às eleições e chegaram a uma amostra de 2,8 mil. A maior parte havia sido publicada por apenas 19 contas – em sua maioria, de candidatos e políticos – que chegaram a mais de 600 mil pessoas. A ONG identificou 36 anúncios problemáticos, sendo 16 relacionados ao 7 de setembro, 10 com campanhas antecipadas e outros 10 com ataques políticos, fake news e discurso de ódio.

Em um anúncio, por exemplo, a então pré-candidata a deputada federal Ellen Miziara, do PL mineiro, postou uma convocatória para o ato: “não é apenas uma eleição, é uma guerra do bem contra o mal, é uma luta! Então vamos lutar”. A narrativa divisionista foi impulsionada livremente e chegou a até 70 mil impressões, segundo o relatório.

A ONG analisou ainda três grupos de WhatsApp, que também pertence à Meta. O relatório compara o papel da empresa na disseminação de desinformação à invasão do Capitólio e ao genocídio em Myanmar, eventos em que a rede teve um papel fundamental na articulação.

“É como se estivéssemos revivendo o cenário criado em 6 de janeiro nos Estados Unidos”, declarou Flora Rebello, diretora de campanha da ONG. “A Meta está ajudando ativamente a mobilizar um exército online no Brasil responsável pela disseminação de teorias conspiratórias sobre a integridade das eleições e que ameaça dar um golpe violento”.

O seu futuro está sendo decidido longe dos palanques.

Enquanto Nikolas, Gayers, Michelles e Damares ensaiam seus discursos, quem realmente move o jogo político atua nas sombras: bilionários, ruralistas e líderes religiosos que usam a fé como moeda de troca para retomar ao poder em 2026.

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