Este texto foi publicado originalmente na newsletter do Intercept Brasil. Assine. É de graça, todos os sábados, na sua caixa de e-mails.
Nessa semana que termina hoje eu conversei com muita gente pra decidir como o TIB vai navegar nas próximas semanas. Em um ao vivo no Instagram (segue a gente clicando aqui), falei com a economista Mônica de Bolle. Ela deu a receita imediata que o governo Bolsonaro deveria estar tomando mas não está: investimento de dinheiro público equivalente a 4% do PIB no sistema de saúde e, sobretudo, nas pessoas. Aumentar o Bolsa Família; instituir renda mínima a dezenas de milhões de brasileiros pobres que, agora, serão jogados na desgraça,
O que a Mônica está fazendo em seu twitter? Mostrando o que muitos querem esconder. O futuro não parece nada bom. Vocês têm o direito de saber disso: a economia vai afundar, nas projeções mais otimistas, uns 4%. A Mônica acha que vai ser ainda pior: -6%. De todo modo, será a maior queda da série histórica de medição do PIB, que começou em 1962.
Se o número de infectados seguir dobrando a cada 54 horas, como disse a Cecilia, no próximo sábado esta newsletter estará comentando tristemente os mais de 10.000 casos no Brasil, e contando as dezenas de mortes, a insuficiência dos hospitais, o caos e o horror de uma pandemia que está longe de acabar. Na Itália de seus 5,1 mil leitos de UTI, metade estão ocupados por pacientes de covid-19 – e lembrem que todas as demais patologias e acidentes seguem acontecendo no país. Os acidentes de carro, os infartos, os pacientes terminais de câncer, tudo isso ainda acontece todos os dias.
O sistema ruiu. Um em cada dez infectados é médico ou enfermeiro, e eles precisam ser substituídos – eventualmente por médicos venezuelanos, cubanos e chineses. Até dois dias atrás, 14 médicos tinham falecido por covid-19 no país. Em conversas com amigos italianos, eles estão chamando o momento histórico de Terceira Guerra Mundial. É como todos se sentem.
Vocês precisam saber dessas coisas por que precisam se preparar, como os 80% de italianos que ‘acreditavam fortemente’ que a mídia exagerava ao reportar sobre o impacto da doença também precisavam. É hora de conscientizar amigos e familiares de que a situação, para muitos, será dramática. Mas é preciso também cuidar da cabeça, ter empatia, pensar no vizinho como alguém que você pode ajudar a salvar. Chegou a vez de tentar com todas as forças viver uma vida comunitária nos pequenos gestos de amor.
Em janeiro de 1983, em apenas duas semanas, Françoise Barré-Sinoussi e sua equipe descobriram o HIV – o vírus que causa a Aids. Em um depoimento nesta semana, ela disse, sobre a missão de um cientista: “Tentar trazer algo importante para a sociedade, para os outros. Se você fizer isso, no fim de sua carreira você se sentirá bem.” Vale pra todos nós.
Toque de cotovelo e bom final de semana.
S.O.S Intercept
Peraí! Antes de seguir com seu dia, pergunte a si mesmo: Qual a chance da história que você acabou de ler ter sido produzida por outra redação se o Intercept não a tivesse feito?
Pense em como seria o mundo sem o jornalismo do Intercept. Quantos esquemas, abusos judiciais e tecnologias distópicas permaneceriam ocultos se nossos repórteres não estivessem lá para revelá-los?
O tipo de reportagem que fazemos é essencial para a democracia, mas não é fácil, nem barato. E é cada vez mais difícil de sustentar, pois estamos sob ataque da extrema direita e de seus aliados das big techs, da política e do judiciário.
O Intercept Brasil é uma redação independente. Não temos sócios, anúncios ou patrocinadores corporativos. Sua colaboração é vital para continuar incomodando poderosos.
Apoiar é simples e não precisa custar muito: Você pode se tornar um membro com apenas 20 ou 30 reais por mês. Isso é tudo o que é preciso para apoiar o jornalismo em que você acredita. Toda colaboração conta.
Estamos no meio de uma importante campanha – a S.O.S. Intercept – para arrecadar R$ 250 mil até o final do mês. Nós precisamos colocar nosso orçamento de volta nos trilhos após meses de queda na receita. Você pode nos ajudar hoje?