O Brasil precisa parar. Você precisa deixar de ir às ruas, seus filhos precisam sair da escola, nós todos precisamos ficar em casa. Eu gostaria de ter notícias melhores, mas não: se continuarmos levando nossa vida normalmente, o Brasil terá milhares de mortos pelo novo coronavírus em um ritmo que você não conseguirá acompanhar o noticiário. Será um massacre. Mas existe esperança, e é sobre ela que eu quero falar.
As experiências de quarentena em países que foram contaminados pelo covid-19 antes do Brasil nos mostram que só o isolamento da população pode evitar o colapso do nosso sistema de saúde. Quantos leitos de hospital existem em sua cidade? Quantas UTIs? Tenha certeza disso: elas não serão suficientes. Nós todos temos a responsabilidade de evitar um caos de consequências imprevisíveis.
O gráfico abaixo mostra como o isolamento da população em casa – fechamento de escolas e do comércio, bloqueio de entrada e saída de turistas, mantendo abertos apenas os serviços essenciais – salvou centenas de vidas na cidade italiana de Lodi. Foi em Lodi que apareceu o 1º caso de covid-19 no país. A cidade impôs quarentena aos cidadãos no dia 23 de fevereiro. Olhe a linha verde e compare com a linha rosa.
A linha rosa é Bergamo, que esperou até 8 de março – duas semanas depois – para começar a quarentena. As duas cidades ficam cerca de uma hora de distância uma da outra. Lodi controlou os casos; Bergamo entrou em colapso. É a cidade com mais casos em todo o país, e o impacto na vida das pessoas jamais será esquecido.
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Outras experiências de confinamento trazem mais robustez científica às medidas que o Brasil deveria tomar agora. Também Hong Kong e Cingapura salvaram milhares de vidas com quarentena.
O Brasil teve a primeira morte por covid-19 anunciada ontem. A primeira morte na Itália – que só instituiu a quarentena da população depois de muitas mortes – aconteceu no dia 21 de fevereiro. Hoje, menos de um mês depois, já são mais de duas mil vidas perdidas e um país em choque. E essa dramática contagem não vai parar tão cedo.
O medo, agora, é que o vírus, que começou a infectar pessoas no rico norte, se alastre pelo sul e mate ainda mais gente pela situação terrível da saúde pública na região. Em conversas com amigos e jornalistas italianos, muitos imaginam um massacre.
Quanto tempo até vermos cenas de pessoas empilhadas em hospitais no Brasil que ainda insiste em não enxergar a gravidade da situação? Nas previsões mais otimistas, na semana que vem teremos milhares de casos confirmados. Diante da incompetência e dos discursos anti-científicos do governo, poderemos assistir atônitos a um morticínio.
https://twitter.com/demori/status/1239699038745833473
Se o ritmo de contaminação seguisse o mesmo padrão de contágio dos primeiros dias, projeções mostram que em poucos meses o mundo teria um bilhão de infectados fora da China, onde a epidemia começou. Sim, um bilhão. O que está contendo esse desastre terrível? Um rígido sistema de quarentena e de controle de circulação de pessoas.
Este texto é um apelo: fiquem em casa.
Não esperem que o governo diga a vocês o que fazer. O benefício da #autoquarentena e que você pode escolher agora em vez de esperar que o estado use armas para lhe obrigar. E consequentemente vai ter mais liberdade para voltar às ruas quando tudo isso passar.
É socialmente irresponsável dizer “isso não vai me afetar”, “eu não vou mudar a minha vida por causa disso” ou “não faço parte de grupos de alto risco”. Deixe essas frases para quem cultua a morte. O coronavírus é imprevisível, mas pode ser vencido de casa. A frase “fazer a revolução do sofá” nunca fez tanto sentido. Então faça.
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