João Filho

Alckmin finge que não, mas é um candidato de Temer e da direita

O tucano tenta se descolar da imagem do governo, mas está envolvido com ele até os ossos.

(São Paulo - SP, 06/12/2016) Presidente Michel Temer durante a premiação da Editora Três, “Prêmio Brasileiro do Ano 2016“. Foto: Beto Barata/PR

(São Paulo - SP, 06/12/2016) Presidente Michel Temer durante a premiação da Editora Três, “Prêmio Brasileiro do Ano 2016“. Foto: Beto Barata/PR

(São Paulo – SP, 06/12/2016) Presidente Michel Temer durante a premiação da Editora Três, “Prêmio Brasileiro do Ano 2016“. Foto: Beto Barata/PR

Beto Barata/PR

Em março de 2016, convidados pelo MBL, Alckmin e Aécio encheram uma van de tucanos e aliados e se dirigiram para a Avenida Paulista para participar de um protesto a favor do impeachment de Dilma, que cairia no mês seguinte. O apoio daquela van foi decisivo para que Temer e o MDB traíssem a chapa pela qual foram eleitos e implantassem o programa de governo tucano que havia sido rejeitado pelas urnas.

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Bonde do golpe a caminho da Paulista.

(Reprodução/Twitter)

Pois bem. Hoje, o candidato da van e provavelmente de Temer para a presidência da República é Geraldo Alckmin. Esse é o candidato do grupo político que tomou o poder na marra e empurrou o país para o abismo. Apesar de até aqui o candidato governista ser oficialmente Henrique Meirelles, Temer e Alckmin têm se encontrado e cogita-se uma chapa MDB-PSDB, que é o que deverá acabar acontecendo, já que ambos os partidos, sozinhos, apresentam desempenhos ridículos nas pesquisas de intenção de voto. Alguns tucanos defendem que na negociação seja oferecido a Temer um cargo em um futuro governo (até mesmo no governo de São Paulo com Doria ou Márcio França), para que ele possa continuar desfrutando de foro privilegiado e escapar de uma provável cadeia.

O tucano agora se vê numa encruzilhada: como vencer a eleição defendendo um legado que culminou com o desemprego e o desabastecimento geral do país? A estratégia adotada até aqui pelo candidato é a da negação. O candidato do governo fará de tudo para não ser associado ao governo, apesar de dormir na mesma cama que ele. É compreensível, mas a missão parece impossível.

Em meio ao caos instalado pela paralisação dos caminhoneiros, o presidenciável tucano usou a velha tática de culpar o PT até quando o arroz queima na panela:  “Eu não escolhi o Temer. Quem escolheu foi o PT, ele que escolheu o Temer de vice-presidente”. Só faltou dizer que ele não tem culpa, já que votou no Aécio.

Alckmin ajudou a tirar Temer de uma posição decorativa para colocá-lo no comando do país e implementar o plano de governo do seu partido. O PSDB foi o partido que mais votou a favor das matérias consideradas prioritárias pelo governo na Câmara, tendo sido mais fiel ao presidente do que o próprio MDB. Não há como um candidato tucano à presidência fingir não ser o herdeiro desse legado. Como diria Renan Calheiros interpretado por Jucá, “Michel é Geraldo Alckmin” nas eleições.

Não será tarefa fácil ludibriar o eleitor. As digitais tucanas estão presentes em diversas áreas do governo Temer e, principalmente, no episódio recente que paralisou o país. Alckmin chegou a ensaiar algumas críticas à lentidão do presidente como se não tivesse nada a ver com a treta. Mas não tem jeito, há pena de tucano em todas as pontas da crise. Foi o PSDB quem indicou o presidente da Petrobrás, que é filiado ao partido. Um dos principais líderes da revolta dos caminhoneiros, associado às entidades patronais e acusado de promover locaute, também é filiado ao partido e chegou a ser candidato a deputado federal pelo partido.

Alckmin joga a culpa no PT por cacoete, mas a realidade é que a sua candidatura está envolvida do começo ao fim da tragédia que é o governo Temer. Quer ele queira ou não, a imagem será a do candidato que representa o governo que deixou a população sem gasolina, e seus adversários lembrarão disso a todo momento.

Outra estratégia eleitoral é se apresentar como uma alternativa moderada de centro contra os radicalismos de esquerda e direita. Alckmin tem tentado se desfazer da pecha de reacionário e se colocar à esquerda do seu pupilo Doria. No intuito de se vender como um tucano mais progressista e se apresentar como um candidato de centro, chegou até a participar de um evento da esquerda do PSDB.

Mas essa lorota também não vai colar. O tucano sempre esteve nas fileiras da direita dentro do PSDB, compôs seus governos em São Paulo majoritariamente com partidos de direita, além de ser integrante da direitíssima Opus Dei. Enfim, sempre governou como a direita gosta. O pseudocentrismo de Alckmin não resiste a uma googlada e, dificilmente, o eleitor cairá nesse golpe.

Além do trágico legado de Temer, o tucano  terá também que explicar durante a campanha porque manteve Paulo Preto amigo particular de Aloysio Nunes que operava as propinas do PSDB  no comando de obras bilionárias na Dersa. Outro esqueleto que sairá do armário durante a eleição é o seu cunhado, suspeito de intemerdiar o caixa 2 das campanhas tucanas.

Depois de décadas participando do governo em São Paulo e sendo blindado pela Assembleia Legislativa, pela grande mídia e pelo judiciário, Alckmin estará bem mais exposto que em eleições passadas e terá que se defender de acusações de corrupção. É uma novidade com a qual não sabemos se o candidato que tem o carisma de um picolé de chuchu saberá lidar.

Mas voltemos para a van. Logo ao descer dela, Alckmin e sua turma foram devidamente escorraçados por alguns manifestantes. Nem todo mundo ali era manifestoche do MBL, e o bonde do golpe teve que voltar pra casa sem discursar no palco do movimento, como estava previsto.

Antes de tomar seu rumo, Alckmin falou rapidamente aos jornalistas e defendeu a derrubada de Dilma porque era “preciso uma solução rápida para retomar o crescimento”. A solução mais tarde foi batizada de Ponte para o Futuro.

O futuro chegou, e o que temos é o aumento do desemprego e um país patinando em uma crise sem precedentes. Nas próximas eleições, o Santo, apelido dado ao tucano nas planilhas da Odebrecht, vai ter que fazer milagre para não ser escorraçado também nas urnas.

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