Trump e Netanyahu apresentam plano de paz que segue oprimindo Gaza.

Plano de paz de Trump para Gaza é a submissão total dos palestinos

Plano de paz apresentado por Trump e Netanyahu pode até interromper ofensiva de Israel, mas mantém ocupação e tira autonomia dos palestinos.

Trump e Netanyahu apresentam plano de paz que segue oprimindo Gaza.

Quando o presidente dos EUA, Donald Trump, apareceu esta semana na Casa Branca ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para revelar seu mais recente plano de cessar-fogo para Gaza, Trump falou em termos bem definidos. Ele chamou a ocasião de “um dia histórico para a paz”, e disse que o acordo colocaria um fim nos combates na região, pela “primeira vez em milhares de anos”.

O plano de 20 itens, por outro lado –– escrito pelo enviado de Trump no Oriente Médio, Steve Witkoff, e pelo genro de Trump, Jared Kushner, ambos investidores imobiliários –– é ao mesmo tempo vago e cheio de contradições. Ele praticamente exclui o envolvimento dos palestinos, e ao mesmo tempo permite a Israel e aos EUA manter amplos poderes políticos, militares e econômicos em Gaza, segundo observadores e especialistas na região.

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Assim como as propostas anteriores de cessar-fogo ao longo da guerra genocida de Israel em Gaza, o plano mais recente propõe interrupção imediata dos combates, troca de prisioneiros israelenses e palestinos, desarmamento do Hamas, e retirada gradual das tropas israelenses de Gaza.

A diferença deste plano é que as autoridades dos EUA estão tentando descrever como seria Gaza no pós-guerra.

O plano afirma que “Israel não ocupará nem anexará Gaza”, e que “ninguém será obrigado a deixar Gaza”. Os palestinos teriam a possibilidade de sair ou voltar, uma mudança em relação às propostas anteriores de Trump de expulsar todos os palestinos do território. Mas os especialistas alertam que essas garantias não indicam uma reversão da política do governo israelense, que vem sendo consistente em seus objetivos de remoção dos palestinos de Gaza e controle total sobre o território.

“Os palestinos poderão permanecer em Gaza, mas não terão realmente poder de governo sobre seus assuntos.” 

O plano de Trump dá a Israel poder de veto durante as fases de retirada militar, com termos basicamente definidos pelos EUA e por Israel. A segurança internacional em Gaza seria então administrada por uma assim chamada Força de Estabilização Internacional, comandada pelos EUA e outros países árabes. Mesmo após a retirada, o plano propõe um “perímetro de segurança” em torno de Gaza, mantido pelos militares israelenses, até que o território esteja “a salvo de qualquer ameaça terrorista ressurgente”. 

Permitir que Israel mantenha esse perímetro de segurança em torno de Gaza praticamente garante a Israel a oportunidade de ocupar o território indefinidamente, de forma semelhante às décadas de bloqueio que transformaram Gaza em uma prisão a céu aberto, antes dos ataques do Hamas de 7 de outubro de 2023. Em 2005, Israel retirou suas tropas de Gaza e desmontou seus assentamentos na região, mas os militares israelense continuaram no controle de suas fronteiras. Os especialistas dizem que a nova proposta promete um estrangulamento semelhante do território, com a possibilidade de retomada da campanha militar israelense.

“Isso é uma continuação da ocupação, se não for uma continuação da guerra por outros meios”, diz Amjad Iraqui, analista sênior sobre Israel/Palestina na organização de pesquisa International Crisis Group. “Os palestinos poderão permanecer em Gaza, mas não terão realmente poder de governo sobre seus assuntos.” 

Na conferência de segunda-feira, Netanyahu agradeceu a Trump, “o melhor amigo que Israel já teve na Casa Branca”, pelo plano, que segundo ele permite ao seu governo a oportunidade de “atingir todos os nossos objetivos de guerra sem mais derramamento de sangue”.

Mas o líder israelense se reservou o direito de “concluir o serviço (…) da forma mais difícil”, e retomar sua campanha militar em Gaza caso o Hamas rejeite ou acordo ou não cumpra suas condições. Imediatamente após a conferência, em que os governantes se recusaram a responder perguntas da imprensa, Netanyahu publicou um vídeo em hebraico, com a intenção de alcançar sua aliança, prometendo que não pretende retirar as tropas israelenses de Gaza.

Enquanto o Hamas avalia como responder ao plano, na terça-feira Trump ameaçou o grupo político militante palestino com “um final muito triste” caso recuse o acordo. Trump disse que daria ao Hamas “três ou quatro dias” para decidir.

O plano já tem adesão de vários países ocidentais, como Reino Unido, França, e Austrália, que acabaram de reconhecer o Estado palestino na semana passada. Entre os países que receberam favoravelmente o plano estão Espanha, Itália, Holanda, China e Rússia. Também apoiam o plano vários países de maioria árabe e muçulmana, como Egito, Jordânia, Catar, Arábia Saudita, Turquia, Emirados Árabes Unidos, Paquistão e Indonésia, que haviam recebido um esboço do plano uma semana antes, das mãos do governo Trump, na sede da ONU. A Autoridade Palestina, com sede na Cisjordânia, também saudou o plano de Trump.

Ocupação Indefinida de Gaza

Especialistas se preocupam que o poder de veto de Israel no novo plano de Gaza dê ao país a liberdade de retomar sua campanha militar a qualquer momento.

O governo de Netanyahu não pode ser considerado um parceiro confiável nos acordos de paz nos últimos anos: Israel já bombardeou repetidamente o Líbano, mesmo depois de assinar um acordo com o Hezbollah em novembro, e em março, violou o acordo de paz com o Hamas, mediado pelos EUA, ao bloquear a entrada de ajuda humanitária em Gaza e retomar a campanha de bombardeio, culpando o Hamas por não libertar reféns suficientes, e acusando falsamente o grupo de preparar novos ataques contra Israel.

Não importa se o Hamas vai aceitar ou rejeitar o plano, Israel certamente continuará com sua política de remoção em massa dos palestinos do território, segundo Tariq Kenney-Shawa, pesquisador de políticas dos EUA no instituto de pesquisa Al-Shabaka.

“Se o Hamas rejeitar a proposta de cessar-fogo, isso dará a Israel o pretexto para simplesmente atropelar a Cidade de Gaza, e fazer isso da forma que Smotrich e Ben-Gvir querem, que é tudo de uma vez em um ataque só”, explica Kenney-Shawa. Mas mesmo que o Hamas siga todas as exigência israelenses de desarmamento e devolução de reféns, segundo ele, não é possível garantir que Israel não irá abandonar o acordo, como já fez no passado.

“Se o Hamas rejeitar a proposta de cessar-fogo, isso dará a Israel o pretexto para simplesmente atropelar a Cidade de Gaza.”

Para Ahmed Moor, pesquisador na Fundação pela Paz no Oriente Médio, que nasceu no campo de refugiados de Rafah, em Gaza, o encontro entre Trump e Netanyahu e os termos do acordo remetem aos Acordos de Oslo de 1993, que pretendiam atingir uma solução de dois estados, mas nos 30 anos desde então, Israel vem expandindo ilegalmente seus assentamentos em território palestino.

“Isso é de volta para o futuro, certo?” diz Moor, lembrando a cena de 1993 no gramado sul da Casa Branca, onde o então primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, apertou a mão do líder da Organização para a Libertação da Palestina, Yasser Arafat. O acordo de Oslo, segundo ele, é um exemplo de Israel “passando na frente” com suas exigências, enquanto só se compromete com as necessidades dos palestinos “em algum momento indeterminado do futuro”.

“Os palestinos hoje precisam de alívio do genocídio. Esse documento não oferece isso.”

Nas horas que se seguiram ao pronunciamento de segunda-feira, os militares israelenses mataram mais de 50 palestinos em Gaza, incluindo cinco pessoas que estavam tentando receber ajuda humanitária, segundo as autoridades de saúde de Gaza. Enquanto isso a violência dos colonos contra os palestinos na Cisjordânia, frequentemente reforçada pelos militares israelenses, continua inabalável: na terça à noite, os colonos israelenses colocaram fogo em um prédio nos arredores de um vilarejo palestino perto de Nablus.

“Os palestinos hoje precisam de alívio do genocídio”, diz Moor. “Esse documento não oferece isso.”

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