Conhecido pelas mentiras nas eleições municipais do ano passado, o ex-coach Pablo Marçal conseguiu enganar a imprensa e o público ao divulgar um vídeo antigo, gravado em Mar-a-Lago, na Flórida, como se fosse um registro recente de um encontro com Donald Trump durante a posse do republicano. Publicado na manhã de terça-feira, 21, na conta de Marçal no Instagram, o vídeo rapidamente se tornou destaque nos principais veículos do país.
Uma simples análise do vídeo já evitaria o erro cometido pela Folha de S.Paulo, pelo Poder360 e por quase uma dezena de veículos brasileiros. O ambiente capturado é claramente o resort de Trump na Flórida, onde o ex-presidente esteve até o dia 19 de janeiro, quando rumou a Washington, onde ocorrem os eventos da posse. Mesmo assim, a Folha e outras redações embarcaram na mentira, afirmando que o vídeo foi gravado “em rápido encontro nesta segunda, 20”.
Mas a mentira estava ainda mais fácil de ser desmontada. Em uma entrevista concedida por Marçal nos Estados Unidos, publicada nas redes sociais dele próprio, um jornalista menciona que as imagens do ex-coach com Trump, que seriam divulgadas naquele dia, teriam sido captadas “alguns dias antes”, o que não foi contestado pelo ex-coach.
Além da estratégia de Marçal de soltar um vídeo antigo na data da posse, a assessoria de imprensa do ex-coach desempenhou um papel central na disseminação da desinformação. Um comunicado enviado a jornalistas especializados em cobertura política em São Paulo mencionava o encontro com Trump, mas sem indicar a data da gravação. Essa omissão, combinada com o timing da publicação nas redes, foi decisiva para a criação de uma narrativa falsa.
O impacto foi imediato. Diversos veículos de comunicação assumiram que o registro era recente, reforçando a ideia de que Marçal participava dos eventos oficiais. Na Folha de S.Paulo, o vídeo ultrapassou 20 mil curtidas em poucas horas, acompanhado de uma legenda que afirmava erroneamente que o encontro ocorreu no dia 20 de janeiro. O Poder360 publicou a nota de Marçal na íntegra e mencionou que o vídeo foi divulgado no dia 21.
Por ironia do destino, Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro pelo PL e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi um dos primeiros a apontar a inconsistência. Ainda na manhã de terça, ele usou suas redes sociais para sugerir que o vídeo era antigo e fazia parte de uma estratégia deliberada para enganar o público.
Segundo o Metrópoles, “pessoas próximas a Marçal afirmam que o vídeo com Trump teria sido gravado por ele no início de janeiro”. Ou seja, antes da posse do novo presidente dos Estados Unidos.
De acordo com No dia 4 de janeiro, o então presidente eleito dos Estados Unidos participou de uma sessão de estreia do documento “Eastman dilemma” no resort. O evento contou com a presença de apoiadores de Trump.
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