Nenhuma personalidade da operação Lava Jato havia assinado, até o fim da noite de ontem, 27 de julho, a carta em defesa da democracia lançada pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP, a mais prestigiosa do país.
“O documento foi concebido com expressões moderadas para atrair o maior número possível de signatários. Não podia conter nada que soasse radical, divisivo, pró-PT, anti-Bolsonaro ou de qualquer forma partidário”, diz reportagem da Folha de S.Paulo sobre o documento.
“Parece ter dado certo, porque a ‘Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito’, que será lida em encontro na Faculdade de Direito da USP no dia 11 de agosto, somou 100 mil assinaturas em menos de 24 horas”, afirma o texto, publicado no início da manhã de hoje.
Nem isso, contudo, foi o suficiente para que juízes e procuradores da Lava Jato decidissem colocar seus nomes no documento. Eu baixei a lista de signatários, fechada às 22h06 de ontem, segundo os metadados (dados como a autoria e o horário de produção de um documento digital) do PDF.
Em seguida, busquei em vão pelos seguintes nomes:
. Sergio Moro, ex-juiz, atualmente político do União Brasil
. Deltan Dallagnol, ex-procurador-chefe da Lava Jato, atualmente político do Podemos
. Rodrigo Janot, procurador-geral da República durante o auge da operação Lava Jato, atualmente aposentado
. Carlos Fernando dos Santos Lima, ex-procurador da Lava Jato, atualmente aposentado e cabo eleitoral de Moro e Dallagnol
. Januário Paludo, procurador da República, o “pai” dos “Filhos do Januário” dos grupos da Lava Jato no Telegram
. Roberson Pozzobon, procurador da República e integrante da força-tarefa da Lava Jato
. Diogo Castor de Mattos, procurador da República e integrante da força-tarefa da Lava Jato
. Orlando Martello, procurador da República e integrante da força-tarefa da Lava Jato
. Athayde Ribeiro Costa, procurador da República e integrante da força-tarefa da Lava Jato
. Júlio Noronha, procurador da República e integrante da força-tarefa da Lava Jato
. Jerusa Viecili, procuradora da República e integrante da força-tarefa da Lava Jato
. Laura Tessler, procuradora da República e integrante da força-tarefa da Lava Jato
. Paulo Galvão, procurador da República e integrante da força-tarefa da Lava Jato
. Antônio Carlos Welter, procurador da República e integrante da força-tarefa da Lava Jato
. Gabriela Hardt, juíza-substituta de Sergio Moro na 13a. vara federal de Curitiba
. Luiz Antônio Bonat, atual juiz da Lava Jato na 13a. vara federal de Curitiba
. João Pedro Gebran Neto, juiz federal de segunda instância e relator da Lava Jato no Tribunal Federal da 4a Região
. Leandro Paulsen, juiz federal de segunda instância e revisor da Lava Jato no Tribunal Federal da 4a Região
. Victor dos Santos Laus, juiz federal de segunda instância e um dos julgadores da Lava Jato no Tribunal Federal da 4a Região
. Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, juiz federal de segunda instância e presidente do Tribunal Federal da 4a Região no auge da operação Lava Jato
. Marcelo Bretas, juiz federal e responsável pelos casos da Lava Jato no Rio de Janeiro
O pouco caso da Lava Jato ante as reiteradas ameaças à democracia brasileira feitas por Jair Bolsonaro, seus filhos políticos e o ministro da Defesa, o general do Exército Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, não representa a visão de parte expressiva do Ministério Público e do Judiciário brasileiros.
O procurador da República Vladimir Aras, responsável pela cooperação internacional na Procuradoria-Geral da República durante a Lava Jato, e Roberto Livianu, procurador do Ministério Público do Estado de São Paulo, presidente do Instituto Não Aceito Corrupção e interlocutor habitual de Dallagnol durante a operação, estão entre os 220 membros do MP que assinaram a carta.
Da mesma forma, 219 membros da magistratura (ou seja, juízes, desembargadores e ministros de tribunais superiores) haviam colocado seus nomes no documento até o fim da noite de ontem.
Ao longo de incontáveis entrevistas, Dallagnol e seus pares garantiram que a Lava Jato era “técnica e imparcial”. Agora candidato, contudo, ele já disse que irá votar em Jair Bolsonaro num eventual segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva – mesmo após a catastrófica gestão da pandemia, casos de corrupção como os do Ministério da Educação e as reiteradas ameaças à democracia.
Da mesma forma, Sergio Moro, que foi “superministro” do presidente de extrema direita, vem ignorando sistematicamente os ataques do ex-chefe ao sistema eleitoral brasileiro.
A lista completa de signatários da carta pela democracia brasileira pode ser lista aqui. Aproveite para ler e assinar o documento.
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