YouTube veta impulsionamento de vídeo crítico ao Google

YouTube classificou como 'conteúdo depreciativo' vídeo sobre o lobby da empresa no PL das Fake News.


Nesta quinta-feira, o professor e pesquisador Sérgio Amadeu, responsável pelo podcast Tecnopolítica, foi surpreendido com um aviso: o YouTube vetou o impulsionamento de seu último vídeo. Intitulado “Por que as plataformas declararam guerra ao PL 2630?”, o episódio de seu podcast trouxe a jornalista Renata Mielli, doutoranda de Ciências da Comunicação na ECA-USP, para discutir a ofensiva das big techs contra o PL das Fake News.

Eu escrevi sobre o tema na newsletter do Intercept no último sábado. Na semana passada, o Google começou a mandar para seus anunciantes um e-mail bem alarmista: se o PL 2630 for aprovado, “milhares de pequenas e médias empresas no Brasil – muitas delas ainda se recuperando da crise causada pela pandemia – terão dificuldades em aumentar suas vendas com a ajuda da publicidade on-line”. O e-mail foi o último passo da investida das big techs contra o projeto de lei, que teve seu relatório final apresentado hoje. A campanha já teve anúncio de página inteira em jornal, chamada na página inicial de buscas do Google e propaganda em aeroporto, sempre no mesmo tom apocalíptico.

Conteúdo ‘depreciativo’: a justificativa da empresa para o veto no impulsionamento.

O episódio do Tecnopolítica foi sobre isso. “O Google faz uma campanha de terrorismo midiático com base em desinformação para se colocar contra o debate de uma legislação nacional. Isso é gravíssimo”, diz Mielli no podcast.

Para o Google, a conversa entre os pesquisadores se tratou de “conteúdo perigoso ou depreciativo”. Essa foi exatamente a justificativa da empresa para vetar o impulsionamento do vídeo, quando o produtor paga para que seu conteúdo chegue a mais pessoas. Segundo Amadeu, não foi a primeira vez: outros dois vídeos do podcast, crítico às grandes empresas de tecnologia, já tiveram vetos semelhantes. Um deles foi com a Larissa Santiago, do Blogueiras Negras, sobre racismo algorítmico. A justificativa, no entanto, era diferente: o YouTube classificou aquele conteúdo como chocante, mesma categoria em que figuram, por exemplo, vídeos de suicídio. O vídeo teve pouco mais de 100 visualizações – a média dos outros do canal, quando impulsionados, é de 1,6 mil.

Curiosamente, um dos pontos do PL das Fake News é justamente dar mais transparência aos processos e modelos de moderação de conteúdo. Eu perguntei ao YouTube as razões do veto ao impulsionamento do episódio de podcast. Não houve retorno até o fechamento deste texto.

Atualização: 1 de abril de 2022, 12h21
O YouTube afirmou que o anúncio “foi bloqueado por engano por nossos sistemas automatizados, que identificam potenciais violações de nossas regras para anunciantes”. Segundo a empresa, após uma análise que apontou que não houve violação, o anúncio voltou a ser exibido.”Nossos sistemas e mecanismos de detecção de ações que vão contra nossas políticas de uso são atualizados e aprimorados constantemente, com o objetivo de garantir proteção e melhor experiência para nossos usuários”, disse a empresa por meio de sua assessoria de imprensa.

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