Durante a campanha eleitoral, Trump prometeu que construiria um “muro gigante e lindo” para proteger os americanos dos imigrantes mexicanos. Mais que isso: prometeu que os americanos não gastariam um tostão e, sabe se lá como, faria o governo mexicano pagar por cada centavo da construção. Claro que nada disso aconteceu. O governo mexicano não vai pagar nada, e Trump não conseguiu apoio do Congresso americano para a construção desse monumento ao fascismo.
Foi aí que os extremistas de direita resolveram organizar uma vaquinha online para levantar grana para a construção do muro. Steve Bannon, o guru da extrema direita internacional, ex-conselheiro e ex-estrategista chefe da Casa Branca, juntou-se ao veterano da Força Aérea Brian Kolfage para criar a campanha de doações. A ideia soou genial para os apoiadores mais fanáticos de Trump. Batizada de “We Build The Wall” (Nós construímos o muro), os alt-right abraçaram a campanha e conseguiram juntar 25 milhões de dólares, o equivalente a R$ 124 milhões. O muro foi orçado em 5 bilhões de dólares, um valor que seria inatingível, mas parece que havia outros interesses além do muro.
Eis que ambos foram presos nesta sexta-feira, 20 de agosto, após uma investigação do Departamento de Justiça dos EUA. Steve Bannon teria surrupiado mais de 1 milhão de dólares em doação para bancar despesas pessoais. Já Kolgafe roubou da vaquinha mais de 350 mil dólares. Bannon e seu colega semearam o ódio entre os americanos e conseguiram fazer uma bela colheita para a suas contas bancárias. Milhares de americanos, aterrorizados pela campanha massiva de fake news contra imigrantes, idealizada por Bannon, encheram o chapéu dos picaretas de dinheiro.
Steve Bannon sempre foi conhecido pela delinquência. Os motivos que o levaram à prisão não espantam, já que faturar com ódio é uma especialidade sua. Ele é o idealizador do Breitbart News, um site de notícias com viés de extrema direita especializado em fabricar mentiras. Antes de virar o braço direito de Trump, ele ajudou a pavimentar o caminho da sua eleição.
Antes de virar o braço direito de Trump, Bannon ajudou a pavimentar o caminho da sua eleição.
O Breitbart foi o site responsável por viralizar o que ficou conhecido como Pizzagate – uma fake news que afirmava categoricamente que Hillary Clinton, então adversária de Trump, comandava uma rede de pedofilia que costumava praticar orgias com crianças nos fundos de uma pizzaria em Washington. Essa foi a trajetória de Bannon até virar um dos principais estrategistas do presidente dos EUA.
O americano também está por trás de outra conhecida malandragem: a Cambridge Analytica, a consultora de análise de dados fundada por ele e que contribuiu para a campanha de Trump, violando a privacidade de milhões de usuários do Facebook e criando mecanismos para influenciar seus votos. É esse o nível da delinquência que o guru da extrema direita americana exportou para o Brasil e para o resto do mundo. É uma turma que está disposta a tudo, até atuar à margem da lei, para difundir sua ideologia doentia e, de quebra, faturar uma grana. Bannon é o homem que forneceu o know-how para o bolsonaristas fabricarem as suas próprias mamadeiras de piroca.
Depois que brigou com Trump, Bannon pôde se dedicar ainda mais à missão de difundir a sua seita de extrema direita. O ultranacionalista católico acredita estar à frente de uma delirante luta em defesa da cultura judaico-cristão no Ocidente. Fundou até uma escola para políticos aprenderem a resgatar os “‘valores cristãos originários’.
A família Bolsonaro foi adotada para representar as ideias de Bannon na América do Sul. Em entrevista à Folha, Bannon culpou o “marxismo cultural” pela investigação da rachadinha de Flávio Bolsonaro – e certamente lançará mão do mesmo delírio para justificar a sua prisão, pedida por aquele movimento marxista-leninista chamado Departamento de Justiça dos EUA.
Eduardo Bolsonaro, o filho mais americanizado do presidente, virou o pupilo de Bannon no Brasil. Ele foi nomeado pelo americano como líder do The Movement na América Latina, o movimento ultraconservador dedicado a espalhar ódio contra minorias e pavimentar o caminho para derrubar governos e eleger extremistas de direita pelo mundo. E aqui cabe a pergunta: Eduardo Bolsonaro recebeu algum dinheiro de Bannon para comandar ações do movimento na América Latina?
Todo grande movimento começa com um 1º passo.Ontem no jantar oferecido por Steve Bannon pudemos ouvir pela ótica de conservadores latinoamericanos e europeus suas perspectivas de seus países. Além de enriquecer nossos conhecimentos nos dá energia: NÃO ESTAMOS SOZINHOS NO MUNDO… pic.twitter.com/QSRKfq34N9
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) February 27, 2020
(POR) Satisfação em ser o líder do The Movement para América Latina ao lado de Steve Bannon @SteveKBannon .
(ENG) Satisfaction in being the head of The Movement for Latin America, Steve Bannon's group. pic.twitter.com/DhAXT0bVAn
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) January 31, 2019
As ligações de Bannon com o bolsonarismo permanecem estreitas. Há dois meses, bolsonaristas articularam para oferecer um cargo no Itamaraty para Gerald Brant, diretor de uma empresa de investimentos em Wall Street e ligado ao guru americano. Foi Brant que organizou um evento em homenagem a Olavo de Carvalho em Wall Street em março do ano passado. Nele estiveram presentes Eduardo Bolsonaro e, claro, Steve Bannon. Os participantes do evento usavam bonés com a frase “Make Brazil Great Again”.
Bannon é o principal arquiteto da construção do sentimento antipolítica, antiestado e anticiência que tomou conta do mundo nos últimos anos. O guru e consultor internacional do bolsonarismo foi preso preventivamente suspeito de ter roubado dinheiro de americanos enfeitiçados pelo seu discurso extremista, construído na base de mentiras e no fomento ao ódio contra tudo o que se considere uma ameaça aos valores judaico-cristãos. O guru do bolsonarismo teve de pagar uma fiança de 5 milhões de dólares para sair da cadeia.
A família Bolsonaro, responsável por implantar o soft power idealizado por Bannon no Brasil, até agora não se pronunciou sobre a prisão do seu guru. É mais um bandido de estimação próximo da família Bolsonaro da qual ela fingirá ser distante. Além de Queiroz, o mais próximo da família, temos também os ex-presidiários Roberto Jefferson, Oswaldo Eustáquio e Sara Winter — esses dois últimos contaram até com a defesa da Advocacia Geral da União. Dessa vez, o peixe é grande e mora longe. Não deu para largar o comparsas brasileiros feridos na estrada, mas o Bannon, pelo jeito, vai dar, sim.
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